
O corpo encantado das ruas
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Narrado por:
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Luiz Antonio Simas
Sobre este áudio
Crônicas de Luiz Antonio Simas sobre a cultura popular brasileira.
As ruas, como vistas por Luiz Antonio Simas em O corpo encantado das ruas, incorporam o movimento. São terreiro de encontros improváveis, território de Exu, que se manifesta na alteridade da fala e na afluência das encruzilhadas. Do Centro ao subúrbio, as tramas das ruas cariocas confundem-se com sua escrita.
Se João do Rio foi o cronista da alma encantada carioca do início do século XX, Luiz Antonio Simas aparece, cem anos depois, como o historiador do corpo do Rio de Janeiro atravessado pelas flechas do capital cultural e financeiro global. Por isso, contra a barbárie civilizatória, surgem suspiros e mariolas nas sacolinhas de São Cosme e Damião, a simpatia de São Brás para não engasgar, as conversas na feira, o cotidiano da quitanda e o boteco da esquina.
O corpo encantado das ruas reivindica a riqueza dos saberes, práticas, modos de vida, visões de mundo das culturas que não podem ser domados pelo padrão canônico. Dá um olê na historiografia oficial. Aqui, tambor e livro são tecnologias contíguas. O Parque Shanghai é tão importante quanto o Cristo Redentor. Bach é um gênio como Pixinguinha. O Museu Nacional, um território sagrado, que acumulava o axé proporcionado pelos ancestrais à comunidade.
Este não é um livro sobre resistir. É sobre reexistir. Reinventar afetos, aprender a gramática dos tambores, sacudir a vida para que surjam frestas. Para que corpos amorosos, corpos de festa e de luta se lancem ao movimento e jamais deixem de ocupar a rua.
Please note: This audiobook is in Portuguese.
©2019 Luiz Antonio Simas (P)2023 Editora José Olympio LtdaO que os ouvintes dizem sobre O corpo encantado das ruas
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Geral
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Narração
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História
- Júlio Augusto
- 19/02/2025
Um livro de poesia do Rio de Janeiro
Ler este livro é como caminhar pelas ruas cariocas com um guia que não apenas conhece os caminhos, mas também os escuta, os sente e os traduz em poesia. Simas tem o raro dom de contar histórias com melodia e lirismo, transformando o cotidiano em algo mágico e profundamente significativo.
A proposta do livro é clara: olhar para as ruas como um corpo vivo, encantado, onde cada esquina, feira, jogo de bola ou pipa no céu carrega uma história. Simas nos convida a enxergar a cidade como um organismo que respira, sente e se transforma. Ele fala das festas populares, das brincadeiras infantis, das feiras livres e dos encontros casuais que dão vida ao espaço urbano. É impossível não se encantar com essa visão poética do Rio de Janeiro – uma cidade que é ao mesmo tempo caos e harmonia, ferida e cura.
O autor nos lembra que somos brasileiros e muitas vezes deixamos passar despercebidos os detalhes mais ricos de nossa cultura. Ao lê-los nas páginas deste livro, somos forçados a refletir sobre nossas ações e sobre como interagimos com o espaço público. Enquanto lia, refletia sobre minha infância e a essência do que significa viver em comunidade, ou quase isso.
A influência de João do Rio em "O Corpo Encantado das Ruas" é evidente. Simas dialoga diretamente com "A Alma Encantadora das Ruas", obra clássica do início do século XX que também explorava a vida urbana carioca. No entanto, enquanto João do Rio retratava uma cidade em transição para a modernidade, Simas escreve sobre um Rio contemporâneo que ainda carrega as marcas de sua história colonial e africana. Ele não apenas homenageia João do Rio; ele atualiza sua visão, mostrando como as ruas continuam sendo espaços de resistência e criação cultural.
Simas também faz questão de destacar o legado africano na construção do Rio de Janeiro. Para ele, a cidade não é apenas um reflexo da herança europeia; ela é profundamente africana em sua essência. Essa perspectiva é a base para entender o livro, pois conecta as práticas culturais descritas – como as rodas de samba, as festas de rua e até mesmo as línguas faladas nas esquinas – a uma história maior de luta e sobrevivência.
O estilo narrativo de Simas pode ser desafiador para alguns leitores. Sua escrita é carregada de poesia e emoção, o que pode não agradar aqueles que preferem uma abordagem mais direta ou acadêmica. No entanto, para quem aprecia textos que combinam profundidade com lirismo, pode crer que esse livro é um deleite. É um livro que exige entrega; você precisa se permitir ser levado pela cadência das palavras e pelo ritmo das histórias.
Talvez o maior mérito do livro seja sua capacidade de transformar o ordinário em extraordinário. Simas nos mostra que há beleza nas coisas simples: no barulho dos passos na calçada, no som dos tambores ecoando à noite, na conversa fiada entre vizinhos na porta de casa. Ele nos lembra que as ruas não são apenas espaços físicos; elas são espaços simbólicos onde histórias são criadas e compartilhadas.
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