Poderosa História

Esse é um livro muito bem feito desde a introdução dos personagens aos detalhes do contexto histórico.

Eu nunca tinha lido um romance de época que se dispusesse a apresentar o Brasil como parte da narrativa e por mais que não tenha sido o melhor Brasil, claro, devido a escravidão, esse é um período da nossa história que não pode ser apagado e acho que aqui foi bem abordado. Apesar de que, em alguns momentos, quando personagens brancos se repetem dizendo "Eu sinto muito" a Marieta ou se lamentam da situação do país, fique um ar de culpa branca meio ridículo, do tipo "Você ficar sentido não vai mudar o sofrimento que pessoas negras passam ali todos os dias, faça algo de verdade sobre isso, reaja", assim como fica contraditório Joaquim fechar negócio e lucrar em cima do café que vem do trabalho escravo, mas ser contra o sistema, eu compreendo que são cenas e conversas utilizadas para demostrar o discernimento de personagens bons, que não teria muito o que se fazer contra o funcionamento de todo um país na época e a autora, num geral, soube expor o assunto, com cuidado, sem passar pano e tendo impacto sobre a história.

Sobretudo, é óbvio, na vida de Marieta, a mulher negra que consegue sua liberdade de volta e é nossa maravilhosa protagonista. Achei que ela foi incrível em todos os seus nuances. Da sua firmeza de manter laços culturais importantes, da sua confiança, demonstração de amor próprio. Assim como também em seus momentos de fragilidade, inseguranças e medo sobre o mundo a sua volta e de onde é o seu lugar.

Joaquim, o belo português, é igualmente um bom protagonista. Seus pensamentos e morais são um respiro, é o famoso homem fictício que faz o mínimo, mas que te faz suspirar de amor porque é, pelo menos, este mínimo que você gostaria de ver em um homem real, sabe? Portanto, me encantou ele cultivar amizades femininas, por exemplo, eu adoro quando o ciclo pessoal do protagonista não se resume a outros homens e ele também realiza gestos românticos lindos (o dente-de-leão foi uma das demonstrações mais meigas que já li, na moral).

E, acima de tudo, os dois funcionam como casal, você sente o amor, a química, as dores e o fogo que os envolve, eles possuem ótimos diálogos, momentos de tensão e reencontros. Inclusive, adorei a narrativa intercalada com o passado e o presente até o ponto exato onde vai haver o "acerto de contas". Eu como uma pessoa com dificuldade de engolir paixões que acontecem dentro de poucas dias, acreditei firmemente no amor deles e comemorei cada segundo.

Por último, deixo registrado minha alegria com personagens secundários como Lily (os questionamentos dela sobre amor e a ausência do desejo de se casar foram acréscimos muito bem-vindos) e Lady Kat (SPOILER: No instante eu que a vi com a dama de companhia a dúvida se plantou na minha mente e eu amei receber a confirmação de que, sim, as duas eram um casal, a gente sempre sabe! e eu adorei que o Quim foi até o último segundo respeitoso sobre manter o segredo dela).

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