O episódio de hoje traz uma memória conhecida por alguns interiores de estados nordestinos: um boi e seu dono passaram a ter uma conexão que muitos duvidaram até um inesperado acontecimento criminoso acontecer.| Sertão Sem Nó: EP36 - O Boi Derradeiro.|| 👉 Pesquisa, roteiro e locução: Jefferson Sousa (@JeffGarapinha). || 👉 Memória: de Paulino, repassada por Lucas Romano.| 👉 Nosso canal gratuito do Telegram, com histórias exclusivas: https://t.me/SertaoSemNo. || 👉 Apoie o projeto fixamente: https://apoia.se/sertaosemno || 👉 Instagram: @JeffGarapinha e @SertaoSemNo || 👉 Contato, parcerias, feedbacks, e-mail para envio de histórias e CHAVE-PIX para apoio não fixo (qualquer valor é muito bem-vindo): avozdecima@gmail.com_______________________Acessibilidade (Texto do episódio de hoje):.Olá, pessoal e feliz 2024 para você e sua família.Eu sou Jefferson Sousa e este é o Sertão Sem Nó, podcast sobre memórias individuais e coletivas dos sertões nordestinos.Em 2024, os nossos episódios vão ficar saindo nas sextas. Contamos com a sua curtida, compartilhamento do nosso trabalho e avaliação com cinco estrelas para nos ajudar a chegar em mais gente, principalmente agora que o nosso engajamento baixou um montão devido ao nosso período de recesso.Demais avisos, apoiadores e outros agradecimentos vêm após a nossa história de hoje.Que começa agora e é intitulada de O Boi Derradeiro___Há registros da presente memória em diversas regiões interioranas de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, mas esta foi enviada de Matinhas, na região metropolitana de Campina Grande, no estado da Paraíba, porém, ao que tudo indica, o homem que acompanhou tudo de perto e passou a contá-la veio da região da cidade de Lastro, no sertão do mesmo estado.Havia um pequeno pedaço de terra nas redondezas de uma cidadezinha no interior da Paraíba, pertencente a Seu Zé, que criava alguns poucos gados para o abate. Seu Zé era conhecido por sua integridade e amor ao próximo. Entre os tantos bois e vacas que, de pouco em pouco, passaram por sua criação, um único não encontrou a morte, o Boi que ele poupava por amor, por algo que seu coração não sabia explicar, o Boi Derradeiro. Isso mesmo, o nome do boi era Derradeiro, como um sinônimo de o último.Todas as manhãs, Seu Zé acordava cedo para cuidar de seu pequeno rebanho. Certa manhã, ao se dirigir ao pasto, notou algo estranho: o Derradeiro estava agitado e parecia querer comunicar algo. Se aproximando, Seu Zé ouviu um murmúrio baixo e surpreendente vindo do Derradeiro, como se o animal estivesse tentando falar!"'Môôônica', foi o que eu ouvi", dizia seu Zé aos colegas em uma feira de frutas próximo dali no dia seguinte. As gargalhadas das pessoas foram tão altas que os pássaros saíram voando das árvores e os cachorros de rua começaram a latir para eles com medo. Seu Zé foi vencido pela vergonha, convencendo-se de que, realmente, as pessoas estavam certas e ele estava ficando era louco. Animais não falavam, era absurdo!Quando se aproximava de casa, viu a pequena filha do vizinho jogando pedras e cutucando o Boi Derradeiro com um pau. "Ei, pare com isso", gritava, ainda de fora da cerca. A menina, rindo, saiu correndo de volta para o sítio do seu pai. Apesar de amar Boi Derradeiro, Seu Zé riu da situação, que se repetia constantemente.Atravessou a madrugada daquele dia olhando nos olhos de Derradeiro, no frio que só quem já ficou em um pasto de noite sabe como é difícil de aguentar. Esperava alguma resposta, algum mungido, seja o comum ou uma palavra, qualquer coisa já o deixaria feliz, mas nada aconteceu, apenas Derradeiro e ele ali, em silêncio, se encarando. Adormeceu de cansaço e acordou com um grito de desespero do vizinho que passava por perto de sua certa: "Mônica, você viu Mônica?".Seu Zé, ainda meio tonto por acordar no susto, demorou para lembrar que Mônica era o nome da pequena filha do seu vizinho. Ela tinha sumido e o desespero do seu pai, Senhor Caetano, era contagiante, de embrulhar o estômago de todos que ouviam. Inclusive, naquela hora, Derradeiro cuspiu um pouco da grama que estava mastigando por horas na boca."O QUE FOI? POR QUE VOCÊ ESTÁ EM SILÊNCIO? VOCÊ SABE DE ALGO?" perguntava Caetano a Zé em tom agressivo. Zé, entre assustado e nervoso, começou a explicar que tinha ouvido o Boi Derradeiro chamar pelo nome de Mônica, mas antes de terminar a explicação, recebeu um soco no olho que fez o seu corpo ficar mais tonto do que quando acordou no susto."Respeite a minha dor, seu maluco, eu perdi a minha filha e você fica com essas brincadeiras", gritava Caetano, enquanto se afastava do Zé caído no chão.Zé passou alguns minutos deitado, olhando para o céu e pensando naquilo tudo, quando ouviu o Boi Derradeiro mungir a palavra: "Mooonte".Seu Zé se levantou rapidamente e virou-se para o seu amigo animal. Enquanto trocavam mais um longo olhar em total silêncio, Zé ...