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  • Professora aponta 5 dicas para uma educação antirracista na escola
    Jul 30 2024

    Autora do livro “Lute como uma professora negra” traz caminhos aos docentes

    A professora de educação infantil da rede pública de São Paulo Josy Asca está lançando seu terceiro livro. Depois de dois títulos destinados à educação antirracista voltados ao público infantil, ela se dirige a colegas de profissão em “Lute como uma professora negra”.

    “Para a gente falar de educação antirracista, a gente precisa entender um pouco do racismo, então eu trago minhas histórias, situações que eu passei, de como eu vivenciei o racismo desde criança até a fase adulta. Como foi ingressar na escola sendo uma professora negra, que não é fácil”, resume.

    A motivação para o livro vem da própria vivência da escritora, já que teve de lidar com o racismo desde criança. “A minha infância na escola não foi das lembranças mais bonitas que eu poderia ter. Sofri muito racismo, e naquela época a gente não tinha com quem conversar. O negro não tinha a voz que ele está tendo hoje. Eu não conseguia falar em casa porque os meus pais também eram reprimidos. Desde o jardim da infância até o período da minha graduação, eu não tive nenhum professor negro, por isso que eu trabalho tão duramente hoje em dia, para que as crianças não passem pelo que eu passei”, revela Asca.

    Educação antirracista

    O livro “Lute como uma professora negra” traz, além da história da autoria, métodos para uma educação antirracista. No áudio, você acompanha cinco atividades e propostas que têm o objetivo de promover um ambiente mais igualitário na escola. “Nesse livro eu trago também algumas dicas de vivência em sala de aula que eu tive com as crianças e que deram certo”, aponta.

    As cinco dicas que a professora e escritora compartilha na entrevista são:

    1) Realização de assembleias com crianças a partir de três anos de idade;

    2) Valorização da representatividade a partir de personalidades negras de diversas áreas;

    3) Encenação de peças de teatro a partir de obras literárias escritas por pessoas negras;

    4) Leitura de obras que têm protagonismo negro;

    5) Promoção de eventos e festas com manifestações das culturas afro-brasileira e africana.

    Crédito da imagem: divulgação – Expo Favela 2024

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  • “Divertida Mente” estimula diálogo sobre as emoções entre adultos e crianças
    Jul 24 2024

    Para especialistas, animação conecta os dois públicos para debater temas complexos com leveza

    Na nova animação de “Divertida Mente”, Riley, que está com 13 anos, tem sua mente transformada em uma sala de controle em que são observadas ações importantes para a protagonista, como jogar hóquei e as relações com as amigas. A partir do que vive, a agora adolescente passa a lidar com a Vergonha, a Inveja, o Tédio e a Ansiedade. Para o psicanalista Christian Dunker, animações e filmes como esse podem ser uma boa forma de estimular a conversa sobre temas difíceis com crianças e adolescentes.

    “O cinema, enquanto fusão de diferentes linguagens – você tem a dramaturgia, a música, a literatura, pintura ou cenografia –, é excelente, justamente porque permite essa hierarquização, mudança de patamar de linguagem e, ao mesmo tempo, uma espécie de convergência entre esses níveis de signos diferentes, o que favorece muito para a função que a gente diria assim, formativa, das narrativas para a nossa subjetividade”, afirma.

    Para Dunker, a primeira animação de “Divertida Mente”, lançada em 2015, já permitia que se estabelecesse um diálogo sobre emoções com as crianças. “Você tem a zona de controle, você tem os afetos disputando entre si quem é que manda, você tem representações imagéticas para cada um dos afetos. Isso tudo vai produzindo efeitos de reacomodação e de visualização, necessários para a gente poder tematizar melhor conflitos, experimentar melhor certas emoções e, principalmente, perceber como as emoções se produzem a partir de afetos, e elas são negociadas na forma de sentimentos sociais”, analisa.

    O psicólogo e terapeuta de casais e de família Alexandre Coimbra Amaral concorda que “Divertida Mente” gera uma conexão entre adultos e crianças ou adolescentes. “Então a parte mais divertida, mais da ação, as crianças adoram; e tem essas surpresinhas que têm a ver com as neuroses adultas. O “Divertida Mente” oferece isso como um prato cheio, dando uma amostra muito fidedigna da complexidade do nosso funcionamento mental e emocional. É um desenho que abre portas para o diálogo”, defende.

    O especialista traz dicas de como o adulto pode iniciar a conversa com a criança ou o adolescente. “Pode ser a partir de uma história que você viveu, como memória que o filme te lembrou, pode ser a partir da cena da personagem principal, perguntando se o filho ou filha se coloca naquele lugar, se sente parecido com ela em alguma coisa. E, sendo bem coerente com o filme, deixar escorrer a emoção. Então, se você tiver que falar do medo, poder assumir os seus medos. Se você tiver que falar da tristeza, poder assumir uma tristeza ou contar uma cena em que você foi visitado pela ansiedade”, explica Amaral.

    Crédito da imagem: Tara Moore – Getty Images

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  • Fuvest 2025: “A ilustre casa de Ramires” contrapõe auge e decadência da monarquia portuguesa
    Jul 23 2024

    Livro de Eça de Queiroz usa metalinguagem para retratar a aristocracia, seus costumes e valores

    “A Ilustre Casa de Ramires” está na lista de leituras obrigatórias para o vestibular da Fuvest 2025. De publicação póstuma, o romance lançado em 1900 é um dos livros de destaque da obra de Eça de Queiroz.

    “No final da carreira, sem deixar de lado a sua convicção realista, ele combina um pouco desse realismo com uma dose de fantasia. E ‘A Ilustre Casa de Ramires’ é uma das obras que pertencem justamente a essa última fase dos romances do Eça de Queiroz”, explica o professor de literatura Eduardo Calbucci.

    O livro traz um retrato da decadência da nobreza lusitana a partir de um contraponto entre os valores de um país monarquista e os acontecimentos a partir de meados do século XIX. “Portugal passava por um momento histórico que acaba levando o país a abandonar a monarquia. O Eça vai viver nesse momento de decadência da monarquia portuguesa. E houve um acontecimento chamado ‘Ultimatum’, que se deu aí em 1890, um conflito que não se torna uma guerra, com os ingleses. Houve esse conflito, e Portugal teve que ceder. Foi considerado por alguns uma espécie de vergonha diplomática e acabou enfraquecendo justamente essa força da monarquia, dando origem à Proclamação da República em Portugal, em 1910”, analisa o professor.

    Metalinguagem

    Calbucci chama a atenção para o recurso da metalinguagem. Em “A Ilustre Casa de Ramires”, o protagonista está escrevendo um romance histórico, o que permite que a obra tenha como destaque o próprio ato da escrita.

    “Em muitos momentos, a gente vai vendo o Gonçalo [protagonista da história] escrever, e cada vez que ele escreve o Eça coloca o texto, e a gente vai tendo essas pontes entre o século XIX e o século XIII. Então, o romance faz essa problematização histórica, e a gente tem, do ponto de vista discursivo, essa complexidade de uma história dentro da outra”, explica.

    Crédito da imagem: Fabien – Pixabay

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  • Unicamp 2025: “Morangos mofados” aborda a complexidade das relações humanas
    Jul 16 2024

    Obra de Caio Fernando Abreu oscila entre o sofrimento e a esperança de viver em uma sociedade de preconceitos

    “Morangos mofados” está na lista de leituras obrigatórias da Unicamp 2025. O livro de contos de Caio Fernando Abreu (1948-1996) foi publicado em 1982 e é marcado pelo período de início de reabertura política durante a ditadura civil-militar no Brasil (1964-1985). Os textos tratam do combate à repressão e têm como pano de fundo relações afetivas.

    “Caio foi uma grande voz da literatura da homoafetividade, assim como fez o Cazuza no terreno da música, ele também assumiu o problema que ele estava enfrentando, o problema de saúde da Aids. Durante a epidemia de Aids, nós tivemos a circulação de discursos de ódio muito fortes contra os homossexuais, contra homossexualidade, e o Caio foi uma voz combativa contra o preconceito gerado por essa situação”, afirma o professor de literatura Fernando Marcílio.

    Dos 18 textos de “Morangos mofados”, o vestibular da Unicamp escolheu seis: “Diálogo, “Além do Ponto”, “Terça-feira Gorda”, “Pera, uva ou maçã?”, “O dia em que Júpiter encontrou Saturno” e “Aqueles dois”. Os três primeiros fazem parte do segmento “O Mofo”. Os outros três integram a divisão chamada de “Os Morangos”.

    “E eu acho muito interessante que o leitor tenha em mente essa divisão e essa estrutura para poder começar a leitura dos contos. A primeira parte, por exemplo, se chama “O mofo” e apresenta uma perspectiva um pouco mais pessimista, um pouco mais desencantada, envolvendo relações de homoafetividade. [A segunda parte] apresenta um otimismo um pouco maior, apresenta perspectivas de libertação desse clima opressivo que se vivia no Brasil por causa da ditadura e por causa do conservadorismo social”, resume Marcílio.

    Contracultura

    Para dar conta da dualidade entre desejos e movimentos repressivos, a linguagem de Caio Fernando Abreu remete a jovens que se identificavam com a contracultura como forma de se contrapor ao pensamento repressor.

    “Eles não se adequavam, evidentemente, à sociedade militarizada da ditadura, mas também não aderiam completamente à luta política mais tradicional da linha partidária que se verificava no Brasil. O Caio é ligado ideologicamente a essa corrente da contracultura, portanto a essa visão um pouco mais cética e que via com desilusão o cenário político, no qual não encontrava perspectivas muito amplas de expressão e de manifestação de pensamento”, conclui. Crédito da imagem: azerbaijan_stockers – Freepik

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  • Livro de Simone de Beauvoir traz a importância das atitudes para construir uma sociedade melhor
    Jul 10 2024

    “A Cerimônia do Adeus” também permite refletir sobre as relações e o papel social da mulher

    O espetáculo “Fernanda Montenegro lê Simone de Beauvoir” é baseado no livro “A Cerimônia do Adeus”, da escritora Simone de Beauvoir. Considerado um dos textos mais relevantes de sua obra, traz a relação da filósofa e ensaista com o também filósofo Jean-Paul Sartre. No relato dos últimos anos de vida do escritor, os capítulos abordam a liberdade e marcas do pensamento existencialista do século XX.

    “Uma filósofa, uma pensadora existencialista, significa interferir na vida, significa se colocar no mundo e agir no mundo sobre a possibilidade de interferir no mundo. E quando a gente lê “A Cerimônia do Adeus”, a gente entende muito o sentido disso, de estar engajado no mundo – porque ela [Beauvoir] é assim, e o Sartre, também, e é disso que se trata. A produção de pensamento e de ação não é dissociada”, explica a doutora em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP) e professora de filosofia contemporânea na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Izilda Cristina Johanson.

    Na entrevista, a pesquisadora analisa como as reflexões sobre velhice, morte e relacionamento estão presentes no livro. “A relação da Simone de Beauvoir e do Sartre, nessa sociedade que a gente vive, fundamentalmente patriarcal, machista, misógina, continua sendo uma exceção, porque não se trata simplesmente de ser um casamento aberto, como hoje em dia a gente diz, é muito mais que isso. É uma parceria de vida enorme, de produção”, analisa.

    Sartre e Beauvoir conviveram por cinco décadas desde que se conheceram em Paris em 1929. Nos diálogos entre eles, mais do que liberdade, há o estímulo à libertação. “A liberdade sempre se realiza não como um ‘Vou fazer tudo o que eu quero’, mas sempre como um processo de libertação: menos um obstáculo no caminho, menos outro obstáculo no caminho, menos outro obstáculo no caminho. O grande legado da Simone Beauvoir, a vida e obra, ação, interferência no mundo é esse, exercício da liberdade como um processo de libertação”, conclui Johanson.


    Crédito da imagem: domínio público


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  • O que são deslocados por catástrofes climáticas?
    Jun 26 2024

    Tragédias como a do RS obrigam vítimas a migrarem para outras cidades

    Entre as notícias referentes à catástrofe no Rio Grande do Sul, um termo começou a ser usado para se referir a uma parte da população da região. Milhares de gaúchos que perderam tudo com as enchentes têm sido chamados de “refugiados climáticos”. No entanto, para a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), essa denominação não é a mais adequada.

    “Pelo ACNUR, refugiado é uma pessoa que foge de situações de violência, de violações dos direitos humanos, de conflito, e cruzam a fronteira. Deixam a proteção do seu país e fogem para outro país. Então, em contexto de desastres, a gente se refere mais a um termo de deslocamento por causa da mudança climática por causa dos desastres”, esclarece o representante do ACNUR no Brasil Davide Torzilli.

    Devido à quantidade cada vez maior de eventos ligados à emergência climática, em todo o mundo tem aumentado o número de pessoas que se deslocam dentro do próprio país.

    “Nos últimos 20 anos, pelo menos, a gente está vendo que os desastres estão voltando mais frequentes, são mais intensos e impactam um número mais alto de pessoas. A maioria das pessoas que se deslocam pelos efeitos dos desastres naturais se deslocam no interior do próprio país. Então elas já têm a proteção do Estado, mas claramente precisam de uma atenção particular, que enumeram uma série de ações que vão do acesso a serviços assistenciais, serviço de saúde, educação e, claramente, moradia”, aponta Torzilli.

    Refugiados entre as principais vítimas

    Torzilli ressalta que o Rio Grande do Sul é um estado que tradicionalmente serve de asilo humanitário para refugiados que tiveram que deixar seus países de origem, como Haiti e Venezuela, por causa de fome, violência ou desastres naturais.

    “O Rio Grande do Sul é um estado no Brasil que recebe um mais alto número de refugiados. Nossas estimativas é que 43 mil imigrantes moram no Rio Grande do Sul. Então, o Acnur está muito engajado nessa pauta, em que as mudanças climáticas, os impactos dos desastres minam cada vez mais a resiliência de pessoas que já eram deslocadas por razões de conflitos ou de violência”, argumenta.

    O representante do Acnur ressalta que essa população de refugiados tem mais dificuldades para se adaptar às catástrofes climáticas. “Tem menos resiliência, menos apoio na comunidade onde ele mora e também psicologicamente. Depois de ter passado por um deslocamento forçado, o refugiado se vê outra vez deslocado por um desastre, claramente tem um impacto muito forte”, revela.

    A Agência da ONU para Refugiados tem como missão proteger e oferecer assistência às pessoas refugiadas e deslocadas em todo o mundo e tem se dedicado ao amparo das vítimas das catástrofes ambientais no Rio Grande do Sul e em outras partes do mundo.

    “O que estamos trabalhando com vários governos ao redor do mundo é o tema de incluir o deslocamento em estratégias nacionais de resposta a desastre, mas também de prevenção, de mitigação dos riscos, também plano nacional de adaptação e resiliência”, explica.

    Torzilli afirma que o fato de o Brasil ser a sede da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30) faz com que o país esteja dedicado a um plano de prevenção de novos desastres naturais. “É um país que tem olhado essa temática, preparando-se para a COP 30, ligado à prevenção de risco e adaptação aos efeitos da mudança climática, para ter a melhor assessoria existente em termo de planificação para a resposta de mitigação dos efeitos da mudança climática”, conclui.


    Crédito da imagem: Fabio Rodrigues-Pozzebom – Agência Brasil



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  • Concurso de crônicas ajuda no letramento literário de alunos do ensino fundamental
    Jun 25 2024

    Professora criou a atividade para desenvolver leitura, escrita e estimular gosto pela literatura

    A professora de língua portuguesa e literatura na rede municipal da capital paulista Paula Rosiska desenvolveu a aplicação de uma sequência de atividades com foco no letramento literário para alunos do 7º ano do ensino fundamental. O projeto tem o objetivo de promover o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita literária por meio da apreciação e da compreensão de crônicas.

    “A crônica é um gênero textual que trata do tema cotidiano. São as coisas bem simples, aquelas que costumam ficar de fora da grande literatura, da literatura de ficção, evidentemente. Elas são retratos da vida comum, das pessoas comuns também pela simplicidade da linguagem da crônica. Ela é informal, então imaginei que seria um bom gênero para eles adentrarem a literatura brasileira e começarem a produzir seus próprios textos”, resume a docente.

    Para instigar os estudantes a escreverem, Rosiska promoveu durante um bimestre o concurso de crônicas com júri composto por alunos, professores e gestores.

    “A ideia era justamente o estímulo, porque, num concurso de crônicas, eu tratei todos eles como autores, como cronistas e não como estudantes candidatos, para eles já entenderem que a literatura está ao alcance deles. E a ideia era justamente ‘desescolarizar’ a redação. Mas num concurso nós temos um júri. Como eles sabiam que haveria leitores, que o texto seria público, acredito que tenha incentivado de tal maneira que dos 32 alunos, 28 entregaram uma redação para o concurso”, analisa.

    Passo a passo para o concurso de crônicas

    Inicialmente, os alunos foram apresentados ao conceito de crônica, sua estrutura e características. Em seguida, foram conduzidas atividades de leitura de textos.

    “Eu criei um ‘baú de crônicas’, no qual eu colocava crônicas para eles poderem ler, terem acesso, e aí se eles encontrassem alguma crônica ou se escrevessem alguma, eles podiam deixar lá, que eu pegaria e já daria devolutiva para eles”, explica Rosiska.

    Em seguida, a professora fez uma pergunta aos alunos: “Fale sobre o momento que mudou a sua vida. O que foi esse momento e qual que foi essa mudança?”.

    “A maioria deles colocou alguma mudança de turma, mudança de escola. E eu percebi realmente que a escola era o tema central da vida deles. Na escola que a gente tem vida social e a questão das amizades. Por isso eu pedi essa primeira produção textual, uma aula, porque é um texto bem curtinho, então esse foi o primeiro passo”, aponta.

    Os passos seguintes da sequência didática que Rosiska sugere para estudantes dos últimos anos do ensino fundamental foram demonstrar que a crônica é um texto de temática extremamente simples e promover o contato com nomes da literatura que se destacam também com a escrita de crônicas.

    “Na sequência, resolvi desafiá-los. Eu escolhi uma crônica do Machado de Assis chamada ‘Regras para o uso dos bondes’. É uma crônica muito engraçada. E aí nós fizemos até a dramatização. Então nós montamos um bonde ali e cada um deles era um dos passageiros que estavam fazendo alguma coisa que Machado de Assis critica no texto”, conta a professora.

    Depois dessa preparação, o concurso prossegue com o momento da escrita da crônica por parte da turma. Rosiska defende que saber que está participando de um concurso estimula o aluno, uma vez que o texto produzido por ele será lido efetivamente e passará por um júri.

    “Havendo esses leitores, houve um estímulo, todos acabaram escrevendo alguma coisa que era importante, alguma angústia ou algo que era divertido, porque essas crianças ou esses adolescentes querem ser ouvidos. Eles entenderam que às vezes é mais fácil ser lido; então na escola eles podem ser lidos. Eu acredito que a escrita se tornou uma alternativa viável para se expressar muito mais do que a fala”, argumenta Rosiska.

    Os resultados obtidos revelaram um progresso significativo no letramento literário dos alunos. “Quanto à leitura, a minha ideia era justamente que eles entendessem que muitas vezes o escritor morreu antes de a gente nascer, mas aquele sentimento humano continua. E isso foi percebido até mais na crônica do Machado de Assis, que algumas angústias que ele coloca ali, nas reclamações de conviver com as pessoas no bonde, são parecidas com as que existem até hoje. Eu acredito que, pelo menos aquele medo ou aquela sacralização dos escritores canônicos foi desfeita. O medo de ler eles [os alunos] não vão ter”, conclui.

    Crédito da imagem: acervo – Paula Rosiska



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  • Fuvest 2025: livro “Os ratos” critica a influência do dinheiro na sociedade
    Jun 18 2024

    Obra narra saga do protagonista para pagar dívida e garantir o leite do filho pequeno

    “Os Ratos”, de Dyonélio Machado, entra para a lista de livros para o vestibular da Fuvest 2025. A obra é dividida em 28 capítulos curtos e tem como protagonista um homem que perambula pelas ruas de uma então provinciana Porto Alegre (RS), em busca de garantir alimento para o filho.

    “Naziazeno Barbosa é um pobre diabo. É um personagem que está na franja da miséria, beirando a miséria, tentando justamente lidar com a dimensão muito básica da nossa existência, que é a da alimentação da família. Então a gente vê aqui o drama de um pequeno burguês, digamos assim, uma odisseia em modo menor. A viagem não é longa, o tempo transcorrido não é longo, mas as aflições vivenciadas por Naziazeno fazem dele um perseverante, embora nunca [seja] uma pessoa que tenha atitudes admiráveis e nem grandes valores morais a serem apreciados pelo leitor”, descreve o professor de literatura do curso Anglo Vestibulares Paulo Oliveira.

    O romance escrito por Dyonélio Machado foi publicado em 1935 e é considerado o mais importante do autor. “O contexto literário era da chamada segunda geração modernista, e os escritores nesse momento vão se aproximar de temáticas mais sociais, portanto que vão olhar para a sociedade brasileira de um ponto de vista muito crítico, querendo expor certas mazelas de nossa convivência social”, analisa o professor.

    Em “Os ratos”, o funcionário público Naziazeno Barbosa recebe um ultimato do entregador de leite, que exige o pagamento da dívida em 24 horas sob ameaça de não fornecer mais o alimento ao protagonista. “É uma forma, digamos assim, de demonstrar como no intervalo muito curto de tempo muita coisa acontece, seja no plano exterior, das nossas percepções sensoriais, seja no plano interior dos nossos pensamentos e reminiscências”, atesta Oliveira.

    No áudio, o docente aponta possíveis questões que podem ser foco do vestibular da Fuvest. “Há um entrelaçamento de vozes, a voz do narrador em terceira pessoa, a voz dos pensamentos de Naziazeno e mesmo a voz dele apresentada, digamos, sonoramente por meio do discurso direto. Esse tipo de entrelaçamento de vozes, que se manifesta por meio de um recurso técnico chamado discurso indireto livre, é sempre um bom assunto para a Fuvest explorar no vestibular”, argumenta.

    Por que “Os ratos”?

    O professor explica que o nome do romance também chama atenção por ter mais de uma interpretação. “Sob a perspectiva social que o romance assume lá nos anos [19] 30, o nome “Os ratos” pode se referir mesmo à condição de Naziazeno Barbosa tentando conseguir esse dinheiro andando pela cidade, relacionando-se com pessoas, digamos assim, de atividades meio duvidosas, que ficam na franja da moralidade. Lidam com agiotas e outras coisas assim. Por outro lado, o título “Os ratos” refere-se também a um devaneio que o personagem Naziazeno vai ter em sua noite depois de chegar em casa”, analisa Oliveira.

    Crédito da imagem: congerdesign – Pixabay

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