• 45. Evolucionismo: Lucien Lévy-Bruhl
    Jan 18 2025

    Neste episódio, o Antrpocast te convida a embarcar numa viagem fascinante pelo pensamento do último dos pensadores evolucionistas que estamos analisando: Lucien Lévy-Bruhl.


    Ele foi um filósofo francês que, bastante influenciado pelos trabalhos de Tylor e sobretudo de James Frazer, lá no início do século XX, mergulhou na antropologia, intrigado com a forma como os diferentes povos interpretam o mundo.


    Sua formação orignial foi no campo da Filosofia Moral. No entanto, como professor da Sorbonne e colega de Durkheim, foi bastante influenciado pelos ventos da Escola Sociológica Francesa (e também do positivismo de Augusto Comte), trazendo um viés empírico para suas preocupações com a moral: ele quer investigar como exatamente as sociedades criam e veiculam os valores que orientam os comportamentos das pessoas: e é aí que entra o mito!


    Ao investigar as histórias aparentemente irracionais dos mitos e os fenômenos místicos das religiões das sociedades ditas "primitivas", ele procura entender de que maneira isso pode revelar o funcionamento da mentalidade desses povos.


    Para isso, ele vai desenvolver dois conceitos importantes: mentalidade pré-lógica e participação mística.


    Importante compreender que por "pré-lógico" ele não indica que esses povos sejam "irracionais" ou "menos inteligentes" do que os povos ocidentais. Significava que ainda não tinham atingido o estágio conquistado pela lógica formal tal como posta pela tradição do pensamento ocidental, que ele entende como sendo o mais sofisticado.


    A ideia é que as experiências de mundo vividas por estas sociedades eram permeadas por uma visão mágica e simbólica que é diferente do pensamento analítico e científico predominante no Ocidente.


    O conceito de "participação mística" é um dos conceitos que o tornaram conhecido. Essa ideia descreve como, nas sociedades tradicionais, as pessoas não se veem separadas do mundo natural ou do sobrenatural — elas se sentem conectadas a tudo ao seu redor, desde animais e plantas até os espíritos e deuses.


    Nesse contexto, o mito funciona como uma espécie de “língua” que expressa essa conexão profunda.


    Outro ponto fascinante é como ele via a coexistência dessas mentalidades. Mesmo em culturas modernas, Lévy-Bruhl acreditava que o pensamento mítico não desaparecia completamente. Quer um exemplo? Pense em superstições, horóscopos, ou na forma como muitas pessoas interpretam coincidências como "sinais do destino". Isso mostra que o mágico e o racional convivem dentro de nós.


    Mas é claro, as ideias de Lévy-Bruhl não passaram sem críticas. Muitos estudiosos disseram que sua abordagem dava margem a interpretações etnocêntricas, sugerindo que o pensamento ocidental era superior.


    Com o tempo, sua visão foi sendo revisada e aprimorada, mas a noção de que diferentes culturas pensam de formas distintas continua sendo uma contribuição valiosa.


    Então, o que podemos levar da perspectiva de Lévy-Bruhl? O mito, para ele, é uma janela para um modo de experiência do mundo que vai além do racional. Ele nos lembra que existem muitas maneiras de entender e se relacionar com a realidade, e que o pensamento mítico não é algo do passado, mas uma dimensão viva que ainda permeia nossas vidas.


    Ficou curioso? ouça o episódio e aprenda um pouco sobre esse fascinante e importante pensador. E sobre como o pensamento mítico, mágico, místico co-existe com o pensamento científico, lógico.


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    As trilhas sonoras utilizadas neste episódio são livres de direitos autorais.



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    1 hora e 6 minutos
  • 44. Evolucionismo: James Frazer
    Dec 16 2024

    As contribuições de James Frazer são essenciais para entender os estudos sobre mito e religião na antropologia.


    Sua obra mais famosa, “O Ramo de Ouro”, é uma verdadeira exploração das crenças e rituais humanos, misturando ciência, literatura e história.


    Além desta obra, “Totemismo e Exogamia” é outro trabalho importante, em que ele analisa o mito no contexto das sociedades totêmicas como elemento constituinte das suas construções identitárias.


    Para Frazer, os mitos e os rituais não eram apenas histórias ou práticas curiosas, mas formas profundas e universais de os seres humanos lidarem com questões fundamentais, como a morte, a renovação da vida e a ordem do cosmos. Eram buscas de explicações e construções de sentidos.


    Uma de suas contribuições mais marcantes foi a teoria dos três estágios do pensamento humano: magia, religião e ciência.


    Segundo Frazer, os primeiros humanos acreditavam que podiam controlar o mundo diretamente por meio da magia. Quando essa abordagem se mostrou insuficiente, surgiram as religiões, onde os humanos passaram a apelar a forças ou deuses sobrenaturais para influenciar o mundo. Por fim, a ciência emergiu como uma forma de compreender a realidade com base na lógica e na observação.


    Apesar dessa progressão, Frazer argumentava que traços de magia e religião permaneciam profundamente enraizados, mesmo em sociedades modernas.


    A importância de James Frazer para a antropologia vai além de suas teorias. Ele abriu o caminho para uma abordagem comparativa dos mitos e rituais, influenciando não apenas a antropologia, mas também a psicologia, a literatura e os estudos religiosos. Embora suas ideias sejam questionadas e reinterpretadas hoje, Frazer permanece uma referência indispensável para quem deseja entender como os mitos e os rituais moldam a experiência humana.


    Estas e outras questões são analisadas neste episódio.


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    44 minutos
  • 43. Evolucionismo: Edward Tylor
    Nov 24 2024

    Edward Burnett Tylor, antropólogo inglês com uma importância muito grande na história de formação nossa disciplina, sendo frequentemente reconhecido como um dos "heróis" fundadores da Antropologia Cultural.


    Ele teve um papel fundamental na consolidação do Evolucionismo como o primeiro quadro teórico criado com certo rigor científico, com sistematização e com método para interpretar os fatos da cultura. Foi o principal pesquisador que pavimentou os estudos sobre religião na Antropologia.


    Em sua obra "Primitive Culture" (1871), Tylor propôs que os mitos não eram meras fantasias, mas sim tentativas iniciais de explicar fenômenos naturais e existenciais. Funcionavam como uma forma rudimentar de ciência, produtos de uma mentalidade pouco elaborada e simplória que tentava oferecer os primeiros ensaios de explicações sobre aquilo que era inexplicável, o que era misterioso.


    Eram manifestações de uma mentalidade rudimentar, pré-lógica.


    Ele introduziu o conceito de animismo, sugerindo que as primeiras crenças religiosas atribuíam alma e vida a objetos inanimados e fenômenos naturais, como uma maneira de dar sentido ao mundo ao redor.


    Tylor também identificou "sobrevivências" — vestígios de antigas crenças animistas que persistem em culturas modernas, como superstições e tradições populares.


    Embora sua perspectiva evolucionista seja hoje considerada eurocêntrica e simplista, as contribuições de Tylor foram fundamentais para estabelecer o estudo antropológico dos mitos e das religiões e a pavimentar a Antropologia como ciência.


    Neste episódio, o Antropocast explora elementos de sua teoria sobre os mitos no contexto religioso, além de discutir aspectos importantes do evolucionismo e das suas contribuições para a consolidação da Antropologia no campo científico.


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    46 minutos
  • 42. O Mito: a perspectiva evolucionista
    Nov 19 2024

    No momento inicial de fundamentação da antropologia, as formas de religiosidade das sociedades australianas, das sociedades africanas e ameríndias atraíram bastante a atenção dos primeiros antropólogos. E dentro do espírito religioso dessas sociedades, eles encontraram um rico e exuberante material mitológico.


    Estamos no universo da Teoria Evolucionista, a primeira escola de pensamento que consagrou a Antropologia no campo das ciências.


    Fazer esta abordagem sobre o Evolucionismo não se restringe a uma questão de erudição, de saber um pouco da história da antropologia.


    De caráter fortemente etnocêntrico, polêmica e bastante ambígua, embora tenha o mérito de ter fundado a antropologia como ciência, essa linha teórica foi responsável pelos principais preconceitos e compreensões equivocadas a respeito das chamadas sociedades tribais (ou sociedades sem estado na África, Américas ou Polinésia, por exemplo) e que ficaram muito enraizados no senso comum (e até mesmo em vários ramos científicos). Muitas das raízes profundas do fenômeno do racismo, por exemplo, também estão ancoradas nesta escola de pensamento que vigorou na Europa e Estados Unidos entre a segunda metade do século XIX e o início do século XX.


    Neste episódio, mantendo seu caráter introdutório de apresentar a Antropologia para não iniciados e iniciantes, o Antropocast percorre alguns pontos centrais da Teoria Evolucionista no seu escopo geral, preparando o ouvinte para se debruçar sobre a análise do mito segundo esta teoria que virá no próximo episódio.


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    51 minutos
  • 41. Mito, Fábula, Lenda e Parábola
    Oct 27 2024

    Quando se consulta o verbete "mito" num dicionário comum (de língua portuguesa, por exemplo), encontra-se, entre outras definições, a definição de mito como sendo "lenda", "fábula". Isso acontece até num dicionário de grego moderno.


    No entanto, se considerarmos que estes quatro termos (mito, lenda, fábula e parábola) se referem a estilos narrativos, estilos de contar histórias, vamos encontrar, tanto em dicionários especializados quanto em alguns autores que se dedicaram a analisar esses temas, diferenças consideráveis.


    A partir desta dúvida que é bastante recorrente, neste episódio é feita uma reflexão sobre as diferenças entre Mito, Lenda, Fábula e Parábola.


    Nossa reflexão aqui tem como fio condutor as análises feitas no campo da teoria literária e também no campo da da antropologia.


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    57 minutos
  • 40. Mito ou verdade: um paradoxo aparente
    Oct 19 2024

    Mito, verdade ou fantasia?


    A palavra mito teve sua origem na Grécia antiga.


    Neste episódio, exploramos o seu sentido original entre os gregos e como este termo extrapolou esse sentido original e passou a ter vários outros sentidos, quase sempre associado a algo fantasioso, ilusório ou mesmo "mentira" (como na expressão "mitomania").


    Qual ou quais as verdades do mito?


    Os mitos se circunscrevem a sociedades tradicionais ou estariam presentes também nas sociedades urbanas, industrias e da tecnologia?


    Essas e outras questões são exploradas neste episódio da nossa expedição de navegação pelo território do mito.


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  • 39. Navegando pelo mito e pela mitologia: uma introdução
    Oct 13 2024

    Iniciando nossa terceira expedição, vamos começar a explorar um tema fascinante: o mito.


    Vamos percorrer densas florestas e grandes trilhas do mito e da mitologia, a partir da ótica da Antropologia. Em cada episódio, uma abordagem diferente e instigante que procurará contribuir para a ampliação do entendimento do mito como um fenômeno cultural e complexo.


    Ancoramos nesta grande ilha, repleta de trilhas que devemos explorar a cada episódio. Nossa pergunta âncora geral, que vai nos orientar nos vários episódios desta expedição, é a seguinte: como a antropologia vem pensando o mito como fenômeno cultural?


    A partir desta pergunta geral, vamos aprofundar em algumas abordagens específicas, incluindo aí diálogos com a psicanálise, com a semiótica, e outras áreas afins.


    Aqui nesta primeira parada, vamos conversar sobre os três episódios anteriores. As histórias sobre a criação do mundo que foram narradas. Estas histórias se situam, dentro do grande universo do mito, como mitos primordiais, dos quais os demais derivam. O que são exatamente as sagas cosmogônicas (ou cosmogonias)? O que elas revelam sobre os grupos sociais que as criam? Qual a sua importância para nós, seres humanos?


    A partir destas reflexões, seguiremos refletindo sobre este fenômeno que encanta a tanta gente!


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    42 minutos
  • 38. Cosmogonias e Antropogonias. Capítulo 3.
    Oct 7 2024

    Com este episódio, encerramos a série de três capítulos com narrativas de sagas cosmogônicas e antropogônicas segundo várias tradições culturais.

    A partir do próximo episódio, iniciaremos uma série de análises sobre o fenômeno do mito a partir da ótica a Antropologia e de algumas áreas ciências humanas.


    Neste episódio são narradas as seguintes histórias.


    1. Cosmogonia maia

    Narração: Christiane Coutheux

    Texto compilado e adaptado de Popol Vuh – Popol Vuh: o esplendor da palavra antiga dos Maias-Quiché, tradução crítica de Josely Vianna Baptista; Maya Mythology: Myths and Folklore of the Mayan Civilization, de Sebastian Berg.


    2. Cosmogonia japonesa

    Narração: Guilherme Umeda

    Texto compilado e adaptado de Kojiki: Mitología japonesa, Dioses y Emperadores, de Kevin Tembouret; Mitología japonesa: Leyendas, mitos folclore del Japón antiguo, de Masaharu Anesaki; As melhores histórias da mitologia japonesa, de Carmen Seganfredo.


    3. Cosmogonia celta.

    Narração: Christiane Coutheux

    Texto compilado e adaptado de O Livro Da Mitologia Celta, de Claudio Crow Quintino; Celtic Mythology, de J. A. MacCulloch; Os mitos celtas: Um guia para deuses e lendas antigas, de Miranda Aldhouse-Green e Caesar Souza.


    4. Cosmogonia inca.

    Narração: Veronica Goyzueta

    Texto compilado e adaptado de Incan Mythology and Other Myths of the Andes, de Gred Rosa; Mitología Inca: el pilar del mundo, de Javier Tapia e Handbook of Inca Mythology, de Paul Steele


    5. Cosmogonia Hindu.

    Narração: Rose Figueiredo

    Texto compilado e adaptado de Classical Hindu Mythology: a Reader in the Sanskrit Puranas, vários autores. Handbook of Hindu mythology, George Mason. As Melhores Historias Da Mitologia Hindu, de Ademilson Souza Franchini e Camen Seganfredo.


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    43 minutos