• 35. Reflexões sobre o Totemismo
    Sep 1 2024

    O que poderia haver em comum entre o Totemismo e a sociedade de consumo?


    O fenômeno do totemismo foi uma das primeiras manifestações culturais analisadas pela nascente antropologia no século XIX e que despertou um grande debate acerca da condição humana.


    Inicialmente foi identificado como uma manifestação religiosa, fundada num misticismo pueril e irracional. As sociedades então chamadas "totemistas" foram classificadas como intelectualmente indigentes, estando na "infância mental da humanidade".


    Como reação a esta visão etnocêntrica, o funcionalismo identificou no totemismo um princípio de classificação que atenderia a uma função de organização social.


    Estas visões foram questionadas pelo estruturalismo que enxergava no fenômeno uma organização do pensamento que manifesta uma sofisticada lógica simbólica que, abusando da linguagem figurada, tematizava a relação Natureza e Cultura.


    Dos estudos sobre Religião, passando pela psicanálise, a epistemologia e a ontologia, o totemismo tem sido um fértil terreno para se pensar diferentes aspectos das culturas humanas.


    A partir dos anos 1980, antropólogos como Marshall Sahlins, Everardo Rocha e Roberto Da Matta, mostraram que, guardadas as devidas proporções, intensidades e formas, o totemismo está muito presente nas sociedades urbanas e industriais.


    Utilizaram os princípios do totemismo para analisar aspectos simbólicos do sistema capitalista, como a publicidade e o consumo.


    Desta forma, o fenômeno extrapola as chamadas sociedades tradicionais - onde ele foi identificado e analisado inicialmente - e se revela igualmente presente, de forma ressignificada, reelaborada e atenuada, em nossa sociedade industrial.


    Afinal, o que é o fenômeno do totemismo e qual sua importância para as ciências humanas, e a antropologia em particular?


    O que ele fala sobre nós, seres humanos?


    É um fenômeno cuja abrangência se circunscreve às sociedades onde ele foi documentado de forma plena, ou ele encontra ecos e reverberações em nosso mundo urbano e industrial contemporâneo?


    São alguns aspectos pensados neste episódio.


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  • 34. Para além da Natureza e da Cultura
    Aug 11 2024

    Avançando em nossa navegação no denso arquipélago da cultura, vamos aprofundar a reflexão explorando a ruptura da dicotomia NATUREZA/CULTURA.


    Este episódio explora uma perspectiva não positivista de construção da Antropologia, a partir das contribuições de várias etnografias contemporâneas com destaque para as contribuições de um ex-orientando de Claude Lévi-Strauss, o antropólogo francês Philippe Descola.


    A base clássica para esta reflexão remonta às análises feitas por Émile Durkheim, Marcel Mauss e, principalmente, Claude Lévi-Strauss, que revelaram formas de pensamento e de relação com o mundo que não se pautam pela maneira cindida e dicotômica com que o pensamento ocidental se construiu.


    Esses trabalhos foram importantíssimos para iniciar esse processo de desconstrução do preconceito etnocêntrico de que as sociedades chamadas tribais seriam irracionais, vivendo na ilusão do mito e nas formas de pensamento que foram classificadas como pré-lógicas. E que o pensamento eurocentrado representaria um modelo universal deste relacionamento com o mundo.


    Desafiando a ideia, universalmente concebida e percebida, de uma natureza completamente apartada do ser humano, Descola propõe 4 formas distintas de pensamento (epistemologias) e de existir, de ser no mundo (ontologias): o naturalismo, o totemismo, o animismo e o analogismo.


    Ele argumenta que entender a maneira como as sociedades ameríndias percebem essas diferenças ontológicas é essencial para uma compreensão mais profunda da diversidade cultural e das relações humanas com o meio ambiente.


    Com essa base, Descola se torna um dos principais pensadores que, ao trazer de maneira profunda uma perspectiva crítica da relação entre natureza e cultura, oferece uma perspectiva concreta de novos modelos para pensar a Ecologia, a Sustentabilidade, a exploração dos recursos... aspectos importantes do mundo contemporâneo.


    Algo que vem se mostrando absolutamente necessário e urgente.


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  • 33. Antropologia, Design e Ativismo
    May 27 2024

    Dando uma pausa nas nossas reflexões sobre as questões teóricas envolvendo o par dicotômico Natureza/Cultura, neste episódio, no formato Antropocast convida, batemos um papo com a designer gráfica Marise De Chirico (@marisedechirico) sobre as relações entre o campo do Design e a Antropologia.


    A partir da sua própria trajetória de vida, e de uma disciplina eletiva que ela ministra (intitulada Design e Ativismo), nossa convidada navega por reflexões pensando o Design como uma ciência social aplicada e sobre como a perspectiva das ciências sociais podem ajudar a enfrentar os desafios (teóricos, metodológicos e práticos) do campo do design.


    As referências citadas no episódio estão no site do Antropocast (fredlucio.net).


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    Agradecimento especial à Christiane Couteux, pela leitura dos poemas de Ryane Leão.


    Referências:

    Pequeno manual antirracista

    Djamila Ribeiro

    Companhia das Letras, 2019


    Emprecariado — Todo mundo é empreendedor. Ninguém está a salvo

    Silvio Lorusso

    Clube do livro do design, 2023


    Descolonizando afetos: Experimentações sobre outras formas de amar

    Geni Núñes

    Paidós, 2023


    Políticas do design: Um guia (não tão) global de comunicação visual

    Ruben Pater

    Ubu, 2022


    Arte e Ativismo: Antologia

    André Mesquita, Charles Esche e Will Bradley

    MASP, 2021


    Links:

    design ativista

    az mina

    revista recorte

    adote uma causa

    podcast lombada


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  • 32. Natureza e Cultura: mecanicismo e visão sistêmica
    May 18 2024
    Quando se pensa sobre a dicotomia Natureza e Cultura não podemos deixar de pensar na perspectiva mecanicista que passou a vigorar no pensamento científico a partir de René Descartes e Francis Bacon. Concebendo a Natureza como uma máquina cujos segredos precisam ser extraídos por meio da ciência, para que sejam colocados à disposição do ser humano, Bacon e Descartes consolidaram a perspectiva utilitarista do conhecimento científico. A supremacia dessa forma de racionalidade como estratégia de validação do conhecimento (nessa perspectiva mecanicista e utilitarista) foi uma aliada poderosa da racionalidade econômica do Capitalismo, que eclodiu nesse mesmo momento, tendo seu apogeu na sua forma industrial a partir do século XVIII. Esse sistema de pensamento (e ações) relegou outras ontologias, outras formas de pensamento e relacionamento de humanos e não humanos a um lugar de inferioridade e subalternização. Um sistema não somente antropocêntrico, mas totalmente "economocêntrico". Outras ontologias e outras epistemologias nos ajudam a pensar sobre as consequências que esta perspectiva trouxe para as relações Ser Humano/Natureza. Essas são algumas das reflexões que propõe esse episódio. Siga o Antropocast no Instagram: @antropocast Site com indicações de leituras: fredlucio.net
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  • 31. Natureza e Cultura: sobre a grande divisão
    Apr 28 2024

    Sem dúvida alguma, um dos temas mais apaixonantes e mais atuais que está na ordem do dia, de muitas discussões, de muitas conversas, é a nossa relação com o planeta.


    Questões como aquecimento global, nossa relação com o meio ambiente, sustentabilidade, temas ligados à ecologia, o Antropoceno, palavra que passou a ocupar o vocabulário das pessoas nos últimos tempos.


    São temas que despertam paixões e, ao mesmo tempo, trazem questionamentos bem poderosos sobre a atual estrutura social, política e, principalmente, sobre a estrutura econômica.


    Tudo isso fala sobre a nossa concepção do que é a natureza e da nossa relação com aquilo que nós chamamos de natureza.


    Nas últimas décadas, as pesquisas etnográficas com sociedades indígenas na América do Sul têm trazido novas luzes que vem redirecionando as nossas reflexões sobre esse tema.


    Nesse episódio, propomos pensar o lugar do ser humano na natureza, a partir do par de oposição que se construiu no pensamento ocidental, na chamada tradição do pensamento ocidental e que dá título ao episódio: Natureza e Cultura.


    No próximo episódio, será feita uma reflexão sobre a virada epistemológica que as pesquisas etnográficas na América do Sul, a partir da perspectiva de pensamento de sociedades indígenas, especialmente com os trabalhos de Philippe Descola e Eduardo Viveiros de Castro.


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  • 30. Cultura e Civilização
    Apr 3 2024

    “Cultura ou civilização... é este todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, leis, moral, costumes, e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade” (Tylor 1871:1). Esta, certamente, é uma das mais famosas definições de Cultura na história da Antropologia. E é também a primeira definição científica deste conceito, elaborada por Edward Tylor, em 1871. Já no seu nascedouro, o conceito científico de cultura aparece geminado com o de civilização. Segundo o antropólogo francês Maurice Godelier, os antropólogos raramente usam o termo civilização. Preferem o termo cultura. Ainda de acordo com ele, com a palavra civilização, os antropólogos geralmente se referem a um conjunto de fenômenos maiores do que uma sociedade e que se estendem por um período maior do que uma geração ou várias gerações, sendo o resultado que estes fenômenos são praticamente insuperáveis. Entendida dessa maneira, a civilização é o presente que se forma, mas é também indissoluvelmente o passado, presente, ativamente presente. Este fenômeno profundo e vasto – civilização, cultura – apreendemos intuitivamente; nos localizamos aproximadamente. Portanto, quando falamos de civilização ocidental, estamos a falar de uma série de fenômenos ativos mas recorrentes. Fenômenos tanto no domínio material quanto no domínio mental. Além disso, não distinguimos necessariamente entre material e mental. Esta ideia de Godelier está muito presente num dos maiores clássicos sobre o tema "O processo civilizador", do sociólogo alemão, Norbert Elias. A partir destas ideias e do conceito de Antropologia da Civilização, criado por Darcy Ribeiro, este episódio pretende trazer algumas reflexões sobre as relações entre Cultura e Civilização na fundamentação do pensamento das ciências sociais, com um recorte na Antropologia. Siga-nos no Instagram: @antropocast Website: fredlucio.net


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  • 29. Sobre as origens do Dia Internacional da Mulher
    Mar 4 2024

    Para a grande maioria das pessoas, a origem do Dia Internacional da Mulher remonta a um episódio, ocorrido nos Estados Unidos: um incêndio intencional numa fábrica onde operárias estavam em greve. Todas foram mortas incineradas. Esta é a versão prevalente no imaginário popular. Entretanto, nada mais longe da verdade.

    A conversa parte de uma pergunta: o que a história da escolha da data para celebrar o Dia Internacional da Mulher pode nos ensinar a respeito de distorções históricas e do negacionismo, assim como sobre nossa relação com o conhecimento e a memória? A quem interessam estas distorções históricas? O que a Antropologia pode nos ajudar a pensar sobre estas questões, para além das temáticas historiográficas, sociológicas e políticas?

    Neste episódio, conversamos sobre estas e outras questões com a socióloga Maria Lygia Quartim de Moraes (do núcleo e estudos de gênero Pagu, da Unicamp). Como se poderá ver, é uma história muito mal contada e que envolve ocultações, apagamentos, conflitos e criação de fake news.


    Dicas de Leitura:

    Alexandra Kollontai - ⁠La journée internationale des femmes⁠;

    Françoise Picq - ⁠Le mythe du 8 mars L’histoire d’une découverte⁠;

    Wikipedia - ⁠Dia Internacional da Mulher⁠.

    Lucio, Fred. Alteridade e ressignificação memória e história sobre o mito fundador do Dia Internacional da Mulher. In: RAHMEIER, Clarissa Sanfelice; SANTI, Pedro de (orgs.). Existir na cidade 2: memória. São Paulo: Editora Zagodoni, 2020.

    Lucio, Fred. Desconstruindo o mito sobre a origem do Dia Internacional da Mulher. Texto publicado no blog: Planeta Filosofico.

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    Mais detalhes sobre o episódio e dicas de leitura: https://fredlucio.net

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  • 28. Colere, Cultura: uma genealogia da palavra e do conceito
    Feb 20 2024
    Falar sobre a história, a origem, a genealogia de uma palavra ou de um conceito, seus sentidos e significados, não é uma mera questão semântica ou linguística. Menos ainda, um exercício de diletantismo. Mas é, fundamentalmente, refletir sobre a história das ideias. Isso porque a evolução de uma palavra e de seu conceito correspondente, não se devem apenas a fatores de ordem linguística. Sem dúvida, pode-se afirmar, com o antropólogo Roy Wagner, que o termo Cultura é uma espécie de epicentro de todo o vasto oceano conceitual  da Antropologia. Wagner, que é um dos leitores críticos do conceito de cultura, num determinado momento do seu mais conhecido livro que se chama “A invenção da Cultura”, afirma: “O conceito de cultura veio a ser tão completamente associado ao pensamento antropológico que, acaso o desejássemos, poderíamos definir um antropólogo como alguém que usa a palavra “cultura” habitualmente”. E, mais à frente, num tom irônico ele diz “ou alguém que usa a palavra cultura com esperança ou mesmo com fé”. Como fenômeno e como conceito, a cultura pode ser vista como produto, como algo concreto; ou como uma faculdade, uma capacidade derivada do intelecto, da racionalidade. Nesse sentido, como algo abstrato.  Nomear alguma coisa, como diz o antropólogo francês Denys Cuche, é colocar o problema do fenômeno e, ao mesmo tempo e de uma certa forma, resolvê-lo. O que significa, procurar compreendê-lo. Todas as sociedades vivem a cultura, mas nem todas tem uma preocupação em explicar (e menos ainda) definir sua própria cultura. Muito menos pensar uma cultura, num sentido universal do conceito. Menos ainda, transformar a cultura em algo institucional. Neste episódio, será feita uma reflexão que levará à exploração do surgimento e da genealogia do conceito de cultura, alguns dos pressupostos filosóficos sobre seus possíveis usos nas ciências sociais e suas relações com o Iluminismo francês. Participação especial: Pascoal da Conceição, recitando Mário de Andrade. Siga-nos no Instagram: https://instagram.com/antropocast  Para as referências, verifique a página do episódio em https://fredlucio.net
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    56 minutos