Direito Digital

De: Ana Frazão e Caitlin Mulholland
  • Sumário

  • Podcast sobre temas atuais do Direito Digital apresentado por Ana Frazão, professora de Direito Comercial e Econômico da Universidade de Brasília, e por Caitlin Mulholland, professora de Direito Civil da PUC do Rio de Janeiro.
    Ana Frazão e Caitlin Mulholland
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Episódios
  • EP#38: Identidade digital e Inteligência Artificial
    Aug 30 2024

    Apresentação: Ana Frazão / Caitlin Mulholland

    Produção: José Jance Marques


    A proposta de Novo Código Civil que está sendo debatida no Senado Federal busca atualizar a legislação brasileira para melhor refletir as complexidades da era digital. O objetivo é modernizar o código vigente, que foi promulgado em 2002, para incluir disposições específicas sobre direitos da personalidade, propriedade intelectual e a proteção de dados pessoais no contexto digital.


    Entre as inovações propostas estão regras mais claras sobre a utilização de dados pessoais, o consentimento informado para o uso de atributos da personalidade por sistemas de inteligência artificial, e medidas para combater o roubo de identidade digital. A proposta também pretende harmonizar a legislação brasileira com normas internacionais, como o Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR) da União Europeia, visando a aumentar a segurança jurídica e a confiança no ambiente digital.


    No entanto, o capítulo sobre Direito Digital da proposta tem gerado polêmicas e debates acalorados entre especialistas, legisladores e a sociedade civil. Críticos apontam que algumas das medidas propostas podem ser insuficientes para lidar com as rápidas inovações tecnológicas e as novas formas de violação de direitos no ambiente digital. Há também preocupações sobre a efetividade da aplicação dessas normas, considerando os desafios da fiscalização e da implementação prática.


    Além disso, a questão da proteção de dados pessoais e a definição dos limites para o uso de inteligência artificial sem comprometer os direitos da personalidade são pontos particularmente controversos. Alguns defendem a necessidade de um maior equilíbrio entre inovação tecnológica e proteção de direitos, enquanto outros argumentam que as restrições propostas podem sufocar o desenvolvimento e a competitividade no setor digital brasileiro.


    A inteligência artificial tem impactado a propriedade intelectual, especialmente com as deep fakes. Essas tecnologias avançadas têm tornado cada vez mais difícil discernir o que é real do que não é, levantando preocupações sérias sobre a proteção da identidade e dos direitos da personalidade.


    Um caso emblemático que ilustra bem essas preocupações envolveu a atriz Scarlett Johansson, que descobriu que o ChatGPT estava utilizando uma voz muito similar à sua, mesmo após ter recusado uma oferta para emprestar sua voz ao sistema. A situação gerou um intenso debate sobre roubo de identidade e os limites da utilização de atributos da personalidade por sistemas de IA.


    Essa discussão nos leva a refletir sobre a necessidade de transparência e regulamentação. A própria Scarlett Johansson destacou a importância de termos clareza absoluta sobre a proteção de nossas semelhanças, trabalhos e identidades, um tema que merece atenção legislativa.


    Não podemos esquecer das implicações éticas e legais de projetos como "The Next Rembrandt", que busca trazer de volta à vida o estilo de um dos maiores pintores da história através da tecnologia. Isso levanta a questão: podemos usar características pessoais de alguém, famoso ou não, de forma indiscriminada e sem autorização? Isso se agrava quando pensamos que as IA generativas precisam ser treinadas com grandes quantidades de dados, o que já resultou em processos como o do The New York Times contra a OpenAI, alegando uso indevido de conteúdos protegidos por direitos autorais.


    Em que pese, no caso brasileiro, a arquitetura protetiva dos direitos da personalidade já assegurar aos titulares os mecanismos para prevenir e reprimir esse tipo de prática, é importante assegurar não haver retrocessos no texto discutido no Congresso. Vamos juntos debater esse tema, considerando a realidade brasileira e os exemplos que já vimos lá fora.


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    1 hora
  • EP#37: Por que foi importante a ANPD suspender o treinamento de IA da Meta?
    Jul 31 2024

    Apresentação: Ana Frazão / Caitlin Mulholland

    Produção: José Jance Marques

    A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) determinou que a Meta, responsável pelo Facebook, Instagram e WhatsApp, suspenda a validade da nova política de privacidade no Brasil. Esta política permitia o uso de dados pessoais de publicações abertas de usuários, como fotos e textos, para treinar sistemas de inteligência artificial (IA) generativa, sem oferecer contrapartidas ou informações detalhadas sobre o uso desses dados. A prática foi criticada na Europa e no Brasil pelo Instituto de Defesa de Consumidores (Idec).

    Conforme o Despacho Decisório nº 20/2024, a ANPD identificou várias violações potenciais à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), incluindo a ausência de hipótese legal apropriada, pois a Meta utilizava a base legal de "interesse legítimo" para o tratamento de dados pessoais sensíveis, o que é inadequado conforme a LGPD.

    Além disso, houve falta de transparência, já que a divulgação das novas políticas de privacidade não fornecia informações claras e precisas aos usuários sobre como seus dados seriam utilizados. A limitação ao exercício de direitos também foi destacada, uma vez que a opção de opt-out não era facilmente acessível, dificultando o direito de oposição dos usuários. Outro ponto crucial foi o tratamento de dados de crianças e adolescentes, para o qual a Meta não adotou salvaguardas adequadas.

    A Meta foi notificada para suspender a nova política e o tratamento de dados pessoais para IA generativa, sob pena de multa diária de R$ 50.000,00. Segundo especialistas, é importante discutirmos como a suspensão da política de privacidade afeta os direitos dos usuários e a importância da transparência e do consentimento informado. Além disso, precisamos analisar a adequação do uso de "interesse legítimo" como base legal para tratamento de dados sensíveis e comparar essas práticas com outras regiões, como a União Europeia.

    Os riscos associados ao uso de dados pessoais para treinar sistemas de IA são um ponto crítico, incluindo exemplos de possíveis abusos e violações de privacidade. A proteção de dados de crianças e adolescentes apresenta desafios específicos que devem ser considerados, e medidas necessárias para garantir o melhor interesse dessas crianças e adolescentes devem ser discutidas.

    Embora a Meta alegue que a suspensão de sua nova política de privacidade representa um retrocesso para a inovação e competitividade no desenvolvimento de inteligência artificial, é essencial considerar que a proteção dos direitos fundamentais dos titulares de dados não pode ser comprometida em nome do progresso tecnológico. A utilização de dados pessoais sem o devido consentimento e transparência não só viola a LGPD, como também pode gerar consequências irreparáveis para a privacidade e a segurança dos indivíduos.

    A inovação responsável deve ser pautada pelo respeito aos direitos dos usuários, garantindo que a evolução tecnológica ocorra de maneira ética e legal, assegurando a confiança do público e a sustentabilidade das práticas empresariais a longo prazo.

    Esses são os principais aspectos que vamos debater no episódio de hoje.


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  • EP#36: A desinformação na tragédia do Rio Grande do Sul
    Jun 26 2024

    Apresentação: Ana Frazão / Caitlin Mulholland

    Produção: José Jance Marques

    As fortes chuvas no Rio Grande do Sul começaram em 27 de abril e se intensificaram em 29 de abril, afetando mais de 400 cidades, especialmente nas regiões do Vale do Rio Pardo, Vale do Taquari e a região metropolitana de Porto Alegre. Este é o maior desastre climático da história do estado, sendo a quarta tragédia em menos de um ano.


    Mesmo diante do estado de calamidade pública, reportagens investigativas e iniciativas de checagem de fatos têm apontado para a ampla circulação de conteúdos desinformativos. Essa desinformação atrapalha os trabalhos de assistência à população afetada pelas enchentes e é utilizada por personalidades para lucrar com a tragédia, obter engajamento ou apoio político. As plataformas digitais são co-responsáveis pela falta de transparência e por não revelarem os dados dos responsáveis pelos anúncios suspeitos. Empresas internacionais também contribuem permitindo o registro de sites anônimos usados para fraudes.


    Uma pesquisa recente promovida pelo Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais e a Universidade Federal do Rio de Janeiro analisou a desinformação envolvendo a emergência climática no Rio Grande do Sul em publicações nas redes sociais e fraudes em anúncios do Meta Ads.


    Influenciadores, sites e políticos de extrema direita têm utilizado a comoção gerada para se autopromover e espalhar desinformação. Entre as principais narrativas estão a afirmação de que a resposta governamental tem sido insuficiente, a negação da relação entre os eventos e as mudanças climáticas, e a inserção da tragédia em teorias da conspiração. A atuação desses grupos é multiplataforma, amplificando suas mensagens para um público maior e dificultando os esforços de socorro e recuperação.


    Segundo a pesquisa, a desinformação foi disseminada de maneira orquestrada através de diversas plataformas, incluindo redes sociais, vídeos, imagens e conteúdo pago nos anúncios do Meta Ads. Influenciadores beneficiam-se dessa orquestração multiplataforma, amplificando suas mensagens para um público maior.


    A pesquisa identificou 351 anúncios fraudulentos realizados por 186 anunciantes. Esses anúncios utilizaram técnicas de engenharia social para promover produtos e informações falsas, visando obter renda ilegal e causar danos patrimoniais e morais. Sites falsos de arrecadação, imitando o layout do site Vakinha, foram utilizados para fraudar doações.


    A pesquisa sugere que a falta de regras claras para o ambiente online facilita a disseminação de desinformação e fraudes. Recomenda-se uma maior transparência e responsabilidade das plataformas digitais e empresas internacionais que permitem o registro de sites anônimos, além da necessidade de políticas públicas robustas para prevenir e combater a desinformação climática.


    No episódio de hoje vamos abordar o impacto da desinformação no enfrentamento de calamidades públicas como a que estamos enfrentando no Rio Grande do Sul. Para falar dos desafios do ponto de vista do governo, temos um convidado especial: o coordenador nacional do programa “Brasil Contra Fake”, George Marques.


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