• EP#34: Transferência da mente humana para o mundo digital

  • Apr 24 2024
  • Duração: 1 hora e 2 minutos
  • Podcast

EP#34: Transferência da mente humana para o mundo digital

  • Sumário

  • Apresentação: Ana Frazão / Caitlin Mulholland

    Produção: José Jance Marques


    Quem já assistiu "Black Mirror" pode se familiarizar com o nosso tema de hoje: a transferência da mente humana para o mundo digital. Essa ideia, que fascina e inquieta, está ganhando terreno no mundo real através de avanços em inteligência artificial e biotecnologia. A premissa de digitalizar e preservar a consciência humana tem sido um tópico recorrente em narrativas de ficção científica. Ela nos desafia a questionar a natureza da vida, da morte e da identidade pessoal.

    Na vida real, a ideia começa a tomar forma através de projetos e pesquisas que visam não apenas entender a mente humana, mas também replicá-la ou preservá-la de formas que desafiam nossa compreensão tradicional de existência. Estamos no limiar de um novo horizonte, onde os avanços tecnológicos podem permitir que memórias, personalidades e até consciências sejam mapeadas, armazenadas e, potencialmente, reativadas.

    Um dos projetos mais relevantes nessa área é o da Terasem Movement Foundation, que desde 2004 trabalha com a ideia de que a personalidade humana pode ser digitalizada e, eventualmente, replicada. Eles coletam dados de personalidade em uma escala extensa e usam esses dados para tentar criar simulações digitais que refletem traços de personalidade específicos, fundamentados no modelo Big Five.

    Outra iniciativa inovadora é a YOV, que procura criar versões digitais de pessoas a partir de áudios, textos e outros registros, permitindo interações póstumas. A ideia é que familiares e amigos possam continuar a ter algum tipo de contato com o ente querido, mesmo após sua morte, através de um avatar digital que utiliza os dados coletados para simular conversas e interações.

    Bruce Duncan, diretor-executivo da Terasem Movement Foundation, destaca que, apesar do progresso na coleta e interpretação de dados de personalidade, a fundação ainda está na fase de treinamento de uma inteligência artificial que possa simular de forma convincente a personalidade humana. Duncan é cauteloso, observando que ainda não podemos dizer que "temos uma mente clonada", indicando que o projeto está longe de atingir uma replicação total da consciência humana.

    Vitor Calegaro, professor adjunto do departamento de neuropsiquiatria da Universidade Federal de Santa Maria, aponta limitações mais fundamentais. Ele explica que a personalidade humana é o produto de uma interação complexa de sistemas psicofísicos, que incluem elementos mentais e biológicos. Sem a capacidade de replicar essas interações biológicas em um ambiente digital, a ideia de simular completamente a personalidade de alguém permanece, por ora, fora de alcance. Calegaro também enfatiza que certos traços, como a sexualidade e o amor, não podem ser totalmente categorizados ou replicados por modelos matemáticos.

    Um ponto relevante é o vazio legal relativo ao uso de dados digitais de pessoas falecidas para criar simulações ou avatares digitais. A Lei Geral de Proteção de Dados não especifica como esses dados devem ser tratados após a morte do titular, levantando questões éticas sobre a memória e a honra do falecido. Livia Teixeira Leal, professora da PUC-Rio e especialista em herança digital, destaca a importância da tutela da memória, que protege a imagem da pessoa ainda em vida, mas indica que há um risco de violação da memória quando as simulações digitais não refletem fielmente a personalidade ou os desejos do falecido.

    Essas brechas legais exigem uma reflexão mais profunda sobre a extensão dos direitos individuais após a morte, assim como a necessidade de desenvolver novos marcos regulatórios que abordem especificamente as implicações da tecnologia na vida e na morte, preservando a dignidade e a vontade das pessoas mesmo após seu falecimento. Vamos debater sobre isso no episódio de hoje. Vem com a gente!

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