Palavras do Brasil

De: Agência Timbres
  • Sumário

  • No intuito de promover a Língua Portuguesa no exterior, o “Palavras do Brasil” se propõe a desbravar, a cada episódio, um vocábulo da língua brasileira. Este podcast é uma realização do Programa Leitorado Guimarães Rosa, do Ministério das Relações Exteriores e do Instituto Guimarães Rosa em Roma [https://www.facebook.com/IGRosaRoma], pela voz da Professora-Leitora Camila Almeida, da Università di Bologna [https://www.instagram.com/programaleitoradosunibo/]

    - Arte: Carolina Fernandes [https://www.instagram.com/cola.gena/]
    - Música: Moisés Bezerra [https://www.instagram.com/moisesgbezerra/]
    - Produção: Agência Timbres [https://www.instagram.com/agenciatimbres/]
    Copyright Agência Timbres
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Episódios
  • Palavras do Brasil - T2Ep#10 (Xingar)
    Mar 13 2023
    O poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade escreveu uma “Toada do Amor”.

    “E o amor sempre nessa toada:
    briga perdoa perdoa briga.
    Não se deve xingar a vida,
    a gente vive, depois esquece.
    Só o amor volta para brigar,
    para perdoar,
    amor cachorro bandido trem.
    Mas, se não fosse ele, também
    que graça que a vida tinha?
    Mariquita, dá cá o pito,
    no teu pito está o infinito.”

    Aqui, Drummond é claro ao dizer que “Não se deve xingar a vida.” Concordo que a vida é para ser agradecida e não insultada, mas às vezes um xingamento dá vazão à toda a revolta que temos dentro de nós.

    Do quimbundo xinga, xingar é o verbo para expressar raiva, frustração ou desaprovação em relação a algo ou alguém. Em português, existem palavras como insultar e ofender, mas a palavra xingar costuma ser bem mais usual para indicar que alguém usa palavras rudes ou vulgares, como os palavrões, para agredir verbalmente outra pessoa.

    A quantidade de xingamentos é infinita porque o ato de xingar é bastante criativo: na raiva, a gente sempre se permite inventar novas formas de ofender os outros.

    Apesar disso, xingar pode causar danos emocionais e psicológicos à pessoa que ouve o xingamento, o que gera conflitos e prejudica relacionamentos interpessoais. Em vez de recorrer ao xingamento, é importante buscar formas mais construtivas de lidar com situações difíceis. Uma comunicação assertiva, respeitosa e livre de agressões é a melhor maneira de resolver conflitos e manter relacionamentos saudáveis.
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  • Palavras do Brasil - T2Ep#9 (Fofoca)
    Mar 6 2023
    A fofoca talvez seja um dos hábitos humanos mais naturais que existe. Nem por isso, ela deixa de ser controversa. Tem gente que acha que a fofoca não edifica. E, de fato, ela pode ser perigosa, especialmente quando se trata de uma mentira ou de uma informação compartilhada com malícia. Às vezes uma fofoca é mesmo a divulgação de um detalhe da vida alheia que o outro gostaria que fosse ignorado. Mas esse hábito humano, que pode até não parecer muito edificante, é uma grande argamassa nas nossas construções sociais. Somos seres gregários e a fofoca é a grande ferramenta social que usamos para discutir as ações das pessoas que estão no nosso núcleo e nos núcleos que nos cercam.

    Quando crianças, a vontade de partilhar informações é muito nítida. Por isso, muitas vezes, as crianças são vistas como pessoas que “falam demais”. Esse filtro social que permite entender o que pode ser compartilhado e o que não pode, a gente adquire com o tempo. E é com o tempo que a gente também entende onde e com quem podemos fofocar, ampliando nossos laços comunitários. Tão natural para as crianças e tão cotidiana para os adultos, acredita-se que a origem da fofoca se entrelaça com a necessidade de se trabalhar em equipe e de se dividir informações ainda nos tempos em que a caça era a forma que o homem encontrava para obter alimento. Teria sido para que os homens apoiassem uns aos outros na tarefa da caça, compartilhando informações relevantes sobre terreno e presas, que a fofoca teria surgido.

    Sobre a sua etimologia, a teoria mais bem aceita é a da professora etnolinguista Yeda Antonita Pessoa de Castro que, em sua tese de doutorado defendida em 1976 na Faculdade de Letras de Lubumbashi, no Zaire, diz que fofoca tem provável origem no quimbundo “fuka” que significa “remexer”. Com décadas de pesquisa sobre a influência de línguas africanas no português do Brasil, o conjunto da obra da professora Yeda é considerado, em todas as partes, como uma renovação nos estudos afrobrasileiros por redescobrir a extensão da influência banta no Brasil e por introduzir a participação de falantes africanos na formação do português brasileiro.

    Um sinônimo para fofoqueiro é mexeriqueiro, palavra que também traz a ideia de remexer. A fofoca, que consiste no ato de descobrir uma informação sobre algo ou alguém e posteriormente contar essa informação a uma ou várias pessoas, dá mesmo uma remexida no fluxo de informações e até na vida das pessoas envolvidas na fofoca. Mas parece que ninguém está imune à ela: em algum momento, ou a gente faz fofoca, ou a gente é vítima dela.
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    4 minutos
  • Palavras do Brasil - T2Ep#8 (Samba)
    Feb 27 2023
    Em 1940, Assis Valente compôs, especialmente para a artista Carmen Miranda, a música “Brasil Pandeiro”, um samba-exaltação ao próprio samba e ao povo brasileiro. A canção, que não agradou Carmen Miranda, acabou sendo gravada pelo grupo Anjos do Inferno naquele mesmo ano e se tornou um grande sucesso. Talvez você já tenha ouvido os versos “Brasil, esquentai vossos pandeiros/Iluminai os terreiros/Que nós queremos sambar” em outras vozes, como na regravação de 1972 dos Novos Baianos. “Brasil Pandeiro” é um dos vários hinos do samba, e ele reforça, na sua composição e na sua letra, a importância do ritmo para os brasileiros. Pandeiro, instrumento de percussão, adjetiva uma nação ritmada.

    Como abordado perfeitamente pelo jornalista Tiago Rogero no episódio “Chove Chuva” do podcast “Projeto Querino”, a relação entre o negro e a música brasileira é profunda demais para que aceitamos que o samba não tenha seu merecido reconhecimento porque é envolto num racismo sistêmico que sempre coloca expressões da negritude em espaços periféricos. A música brasileira como é jamais existiria sem a influência africana. Surgido no começo do século XX, o samba é a maior expressão cultural negra do Brasil e, possivelmente, a maior expressão musical do Brasil. A música que costuma ser cultuada no exterior como música brasileira não seria o que é se décadas antes o samba não tivesse surgido, original e envolvente. A primeira composição da venerada Bossa Nova, “Chega de Saudade”, é um samba. O samba está na origem da Bossa Nova e ele é o que existe de melhor na nossa música. Ele é resistência, lazer, trabalho. É a vazão ao sofrimento e à criatividade genial do povo negro.

    Segundo Deonísio da Silva, em “De onde vêm as palavras: origens e curiosidades da língua portuguesa” a palavra samba vem do quimbundo “semba”, que significa “umbigada”. Umbigada é um movimento característico do samba, que consiste em bater com o umbigo em outra pessoa, geralmente no momento em que se dança em pares. Esse toque pode ser suave ou mais forte, dependendo do estilo da música e da dança. Em outras línguas africanas encontram-se palavras semelhantes a samba indicando danças e cantos.

    Nasceu em novembro de 1916, no Morro da Saúde, em versos improvisados numa roda de amigos que teve lugar na casa de Hilária Batista de Almeida, a tia Ciata, uma famosa matriarca do samba no Rio de Janeiro, aquele que é considerado o primeiro samba. A composição e letra de “Pelo Telefone” são de autoria coletiva. Em 1917, Donga gravou a canção pela Casa Edison, uma das primeiras gravadoras do Brasil. A letra de "Pelo Telefone" fala sobre a alegria de se estar em uma roda de samba, e o ritmo tem uma batida característica que é tocada com instrumentos de percussão, como o pandeiro, o tamborim e o surdo.

    Um samba utiliza, principalmente, instrumentos de percussão, como o pandeiro, o tamborim e o surdo, mas também o ganzá e o agogô, e instrumentos de corda, como o cavaquinho e o violão. A cuíca, um instrumento que produz som a partir da fricção de uma haste com um pedaço de tecido molhado e da pressão da parte externa do instrumento com o dedo, também é muito característica do samba. A percussão é tão importante para o samba porque, ainda antes da abolição da escravatura, as rodas de dança que os negros faziam costumavam ser puxadas por batuques.

    Nos seus primórdios, em uma manifestação aberta do racismo da sociedade brasileira, festividades realizadas pelos negros, como as rodas de capoeira e de samba, eram proibidas pelas autoridades. Mas durante o último século, essa expressão surgida em comunidades de afro-brasileiros em bairros do Rio de Janeiro resistiu a dificuldades e consolidou sua importância para o país.

    A importância do samba é tamanha que, além de fazer parte da cultura e da identidade do brasileiro, ele é reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. O Dia Nacional do Samba é comemorado em 2 de dezembro. A data foi escolhida porque foi nesse dia que o compositor de “Aquarela do Brasil”, mais um dos hinos do samba brasileiro, Ary Barroso, visitou, pela primeira vez, a cidade de Salvador, berço e casa de tantos afrodescendentes.

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    Link para o episódio Chove Chuva do podcast Projeto Querino: https://projetoquerino.com.br/podcast-item/chove-chuva/
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    6 minutos

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