Episódios

  • Palavras do Brasil - T2Ep#10 (Xingar)
    Mar 13 2023
    O poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade escreveu uma “Toada do Amor”.

    “E o amor sempre nessa toada:
    briga perdoa perdoa briga.
    Não se deve xingar a vida,
    a gente vive, depois esquece.
    Só o amor volta para brigar,
    para perdoar,
    amor cachorro bandido trem.
    Mas, se não fosse ele, também
    que graça que a vida tinha?
    Mariquita, dá cá o pito,
    no teu pito está o infinito.”

    Aqui, Drummond é claro ao dizer que “Não se deve xingar a vida.” Concordo que a vida é para ser agradecida e não insultada, mas às vezes um xingamento dá vazão à toda a revolta que temos dentro de nós.

    Do quimbundo xinga, xingar é o verbo para expressar raiva, frustração ou desaprovação em relação a algo ou alguém. Em português, existem palavras como insultar e ofender, mas a palavra xingar costuma ser bem mais usual para indicar que alguém usa palavras rudes ou vulgares, como os palavrões, para agredir verbalmente outra pessoa.

    A quantidade de xingamentos é infinita porque o ato de xingar é bastante criativo: na raiva, a gente sempre se permite inventar novas formas de ofender os outros.

    Apesar disso, xingar pode causar danos emocionais e psicológicos à pessoa que ouve o xingamento, o que gera conflitos e prejudica relacionamentos interpessoais. Em vez de recorrer ao xingamento, é importante buscar formas mais construtivas de lidar com situações difíceis. Uma comunicação assertiva, respeitosa e livre de agressões é a melhor maneira de resolver conflitos e manter relacionamentos saudáveis.
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  • Palavras do Brasil - T2Ep#9 (Fofoca)
    Mar 6 2023
    A fofoca talvez seja um dos hábitos humanos mais naturais que existe. Nem por isso, ela deixa de ser controversa. Tem gente que acha que a fofoca não edifica. E, de fato, ela pode ser perigosa, especialmente quando se trata de uma mentira ou de uma informação compartilhada com malícia. Às vezes uma fofoca é mesmo a divulgação de um detalhe da vida alheia que o outro gostaria que fosse ignorado. Mas esse hábito humano, que pode até não parecer muito edificante, é uma grande argamassa nas nossas construções sociais. Somos seres gregários e a fofoca é a grande ferramenta social que usamos para discutir as ações das pessoas que estão no nosso núcleo e nos núcleos que nos cercam.

    Quando crianças, a vontade de partilhar informações é muito nítida. Por isso, muitas vezes, as crianças são vistas como pessoas que “falam demais”. Esse filtro social que permite entender o que pode ser compartilhado e o que não pode, a gente adquire com o tempo. E é com o tempo que a gente também entende onde e com quem podemos fofocar, ampliando nossos laços comunitários. Tão natural para as crianças e tão cotidiana para os adultos, acredita-se que a origem da fofoca se entrelaça com a necessidade de se trabalhar em equipe e de se dividir informações ainda nos tempos em que a caça era a forma que o homem encontrava para obter alimento. Teria sido para que os homens apoiassem uns aos outros na tarefa da caça, compartilhando informações relevantes sobre terreno e presas, que a fofoca teria surgido.

    Sobre a sua etimologia, a teoria mais bem aceita é a da professora etnolinguista Yeda Antonita Pessoa de Castro que, em sua tese de doutorado defendida em 1976 na Faculdade de Letras de Lubumbashi, no Zaire, diz que fofoca tem provável origem no quimbundo “fuka” que significa “remexer”. Com décadas de pesquisa sobre a influência de línguas africanas no português do Brasil, o conjunto da obra da professora Yeda é considerado, em todas as partes, como uma renovação nos estudos afrobrasileiros por redescobrir a extensão da influência banta no Brasil e por introduzir a participação de falantes africanos na formação do português brasileiro.

    Um sinônimo para fofoqueiro é mexeriqueiro, palavra que também traz a ideia de remexer. A fofoca, que consiste no ato de descobrir uma informação sobre algo ou alguém e posteriormente contar essa informação a uma ou várias pessoas, dá mesmo uma remexida no fluxo de informações e até na vida das pessoas envolvidas na fofoca. Mas parece que ninguém está imune à ela: em algum momento, ou a gente faz fofoca, ou a gente é vítima dela.
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    4 minutos
  • Palavras do Brasil - T2Ep#8 (Samba)
    Feb 27 2023
    Em 1940, Assis Valente compôs, especialmente para a artista Carmen Miranda, a música “Brasil Pandeiro”, um samba-exaltação ao próprio samba e ao povo brasileiro. A canção, que não agradou Carmen Miranda, acabou sendo gravada pelo grupo Anjos do Inferno naquele mesmo ano e se tornou um grande sucesso. Talvez você já tenha ouvido os versos “Brasil, esquentai vossos pandeiros/Iluminai os terreiros/Que nós queremos sambar” em outras vozes, como na regravação de 1972 dos Novos Baianos. “Brasil Pandeiro” é um dos vários hinos do samba, e ele reforça, na sua composição e na sua letra, a importância do ritmo para os brasileiros. Pandeiro, instrumento de percussão, adjetiva uma nação ritmada.

    Como abordado perfeitamente pelo jornalista Tiago Rogero no episódio “Chove Chuva” do podcast “Projeto Querino”, a relação entre o negro e a música brasileira é profunda demais para que aceitamos que o samba não tenha seu merecido reconhecimento porque é envolto num racismo sistêmico que sempre coloca expressões da negritude em espaços periféricos. A música brasileira como é jamais existiria sem a influência africana. Surgido no começo do século XX, o samba é a maior expressão cultural negra do Brasil e, possivelmente, a maior expressão musical do Brasil. A música que costuma ser cultuada no exterior como música brasileira não seria o que é se décadas antes o samba não tivesse surgido, original e envolvente. A primeira composição da venerada Bossa Nova, “Chega de Saudade”, é um samba. O samba está na origem da Bossa Nova e ele é o que existe de melhor na nossa música. Ele é resistência, lazer, trabalho. É a vazão ao sofrimento e à criatividade genial do povo negro.

    Segundo Deonísio da Silva, em “De onde vêm as palavras: origens e curiosidades da língua portuguesa” a palavra samba vem do quimbundo “semba”, que significa “umbigada”. Umbigada é um movimento característico do samba, que consiste em bater com o umbigo em outra pessoa, geralmente no momento em que se dança em pares. Esse toque pode ser suave ou mais forte, dependendo do estilo da música e da dança. Em outras línguas africanas encontram-se palavras semelhantes a samba indicando danças e cantos.

    Nasceu em novembro de 1916, no Morro da Saúde, em versos improvisados numa roda de amigos que teve lugar na casa de Hilária Batista de Almeida, a tia Ciata, uma famosa matriarca do samba no Rio de Janeiro, aquele que é considerado o primeiro samba. A composição e letra de “Pelo Telefone” são de autoria coletiva. Em 1917, Donga gravou a canção pela Casa Edison, uma das primeiras gravadoras do Brasil. A letra de "Pelo Telefone" fala sobre a alegria de se estar em uma roda de samba, e o ritmo tem uma batida característica que é tocada com instrumentos de percussão, como o pandeiro, o tamborim e o surdo.

    Um samba utiliza, principalmente, instrumentos de percussão, como o pandeiro, o tamborim e o surdo, mas também o ganzá e o agogô, e instrumentos de corda, como o cavaquinho e o violão. A cuíca, um instrumento que produz som a partir da fricção de uma haste com um pedaço de tecido molhado e da pressão da parte externa do instrumento com o dedo, também é muito característica do samba. A percussão é tão importante para o samba porque, ainda antes da abolição da escravatura, as rodas de dança que os negros faziam costumavam ser puxadas por batuques.

    Nos seus primórdios, em uma manifestação aberta do racismo da sociedade brasileira, festividades realizadas pelos negros, como as rodas de capoeira e de samba, eram proibidas pelas autoridades. Mas durante o último século, essa expressão surgida em comunidades de afro-brasileiros em bairros do Rio de Janeiro resistiu a dificuldades e consolidou sua importância para o país.

    A importância do samba é tamanha que, além de fazer parte da cultura e da identidade do brasileiro, ele é reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. O Dia Nacional do Samba é comemorado em 2 de dezembro. A data foi escolhida porque foi nesse dia que o compositor de “Aquarela do Brasil”, mais um dos hinos do samba brasileiro, Ary Barroso, visitou, pela primeira vez, a cidade de Salvador, berço e casa de tantos afrodescendentes.

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    Link para o episódio Chove Chuva do podcast Projeto Querino: https://projetoquerino.com.br/podcast-item/chove-chuva/
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    6 minutos
  • Palavras do Brasil - T2Ep#7 (Capoeira)
    Feb 20 2023
    Dentro da série “Propostas Curriculares para o Ensino de Português no Exterior”, do Ministério das Relações Exteriores, existe um livro que se chama “Português para praticantes de capoeira”. Nele, a professora Arizângela Figueiredo descreve a capoeira como “uma manifestação artístico-cultural essencial na história do Brasil, que envolve de forma recíproca o jogo, a luta, a dança e a música”. É na Roda de Capoeira, espaço onde acontece o ritual do jogo, que os capoeiristas tocam, cantam e trabalham sua mandinga, que é a habilidade de surpreender o oponente, e sua ginga, que é a coordenação dos movimentos do corpo.

    Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan, “a capoeira é um espaço profundamente ritualizado, congrega cânticos e gestos que expressam uma visão de mundo, uma hierarquia, um código de ética, que revelam companheirismo e solidariedade. A roda é uma metáfora da vastidão do mundo. Com suas alegrias e adversidades. A mudança constante. É na Roda de Capoeira que se formam e se consagram os grandes mestres, se transmitem e se reiteram práticas e valores tradicionais afro-brasileiros.”

    A capoeira praticada atualmente tem duas principais vertentes. A Capoeira Angola tem movimentos mais rasteiros e seu principal expoente é o mestre Pastinha. E a Capoeira Regional tem movimentos mais aéreos e seu principal expoente é o mestre Bimba.

    Mestre Pastinha disse que as origens da capoeira estão no Quilombo dos Palmares, fruto da necessidade de o povo negro lutar e resistir contra aqueles que ousassem atacá-los. A imagem de Zumbi dos Palmares capoeirista permeia o imaginário popular. No entanto, não há comprovação histórica sobre a existência de capoeiristas no Quilombo dos Palmares e nem mesmo qualquer registro histórico sobre a capoeira antes do século XVIII. Mas não há como se negar que a capoeira é um símbolo da história afro-brasileira.

    Com relação a sua etimologia, são duas as teorias sobre a origem da palavra. Uma diz que ela viria do tupi e significaria algo como “mato ralo”, em alusão aos descampados onde se praticava capoeira. A outra teoria diz que capoeira era uma espécie de cesta na qual os escravizados transportavam animais de seus senhores para venda em feiras. Perto das capoeiras, em intervalos de trabalho, essas pessoas praticariam essa arte que é um grande combinado de destrezas da corporalidade.

    De crime nacional punido com prisão a arte praticada em mais de 160 países, ela é, sem dúvidas, um dos maiores difusores da cultura brasileira e do português pelo mundo, tendo alcançado o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO em 2014.

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    Link para a Proposta Curricular “Português para praticantes de capoeira”: http://funag.gov.br/biblioteca/download/Cartilha%204-DIGITAL.pdf

    Link para o Dossiê do Iphan sobre a Roda de Capoeira: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Roda%20de%20Capoeira%20-%20Patrim%C3%B4nio%20Mundial%20Imaterial%20-%20Brasil%202014.pdf
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    4 minutos
  • Palavras do Brasil - T2Ep#6 (Dengo)
    Feb 13 2023
    Se existe um nome científico no Brasil que praticamente todo mundo conhece, esse nome é Aedes aegypti. O Aedes aegypti é um mosquito transmissor de várias doenças como a febre amarela urbana, a chikungunya, a zika e a dengue.

    Em artigo intitulado “Notas históricas e filológicas sobre a palavra dengue”, publicado na Revista de Patologia Tropical da Universidade Federal de Goiás em 1997, o professor e médico Joffre Marcondes de Rezende faz um histórico do uso da palavra que nomeia a doença. Dengue seria uma palavra de origem espanhola, e no Dicionário da Academia Real Espanhola, ela é definida como um melindre que consiste em exagerar sentimentos para se conseguir o que se deseja. Assim, para o autor, o vínculo semântico entre o nome da doença e a acepção de dengue se justifica devido à postura e ao comportamento daqueles que são acometidos pela doença.

    Febre alta, dor de cabeça, dores musculares, dor nas juntas e atrás dos olhos, manchas vermelhas pelo corpo e fadiga são alguns dos sintomas da dengue. É normal que o doente fique dengoso, manhoso, procurando receber cuidados.

    Ter uma atitude sedutora, com manha, delicada e meiga é ser dengoso. Mas uma outra possível origem da palavra dengo faz com que ela seja vista com significados mais extensos. Uma hipótese diz que dengo vem do quicongo ndengo e significa “doçura, maciez”. Num sentido mais profundo e ancestral dengo é um pedido de aconchego no meio da rotina. Um carinho é um dengo. Um cafuné é um dengo. A palavra dengo também é usada com afeto como um vocativo para se dirigir a pessoas amadas.

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    Link para acesso ao artigo do Professor Joffre Marcondes de Rezende: https://revistas.ufg.br/iptsp/article/view/17233/10377
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  • Palavras do Brasil - T2Ep#5 (Cafuné)
    Feb 6 2023
    Existem algumas palavras que são mais difíceis de serem traduzidas porque não têm um equivalente direto em outros idiomas. Para serem traduzidas, elas precisam ser explicadas. Esse é o caso da palavra cafuné.

    O cantor e instrumentista Dominguinhos, em composição de José Abdon, cantou:
    “Te faço um cafuné quando tu for dormir
    Te dou café quando se levantar
    Dou comida na boca, mato a tua sede
    Armo a minha rede e vou te balançar”

    Fazer um cafuné é uma das maiores demonstrações de afeto da corporalidade brasileira. O cafuné é o substantivo que se usa para o ato de passar os dedos e a mão com delicadeza pela cabeça de outra pessoa. O gesto foi observado por antropólogos no Brasil tanto em comunidades de origem africana quanto em comunidades indígenas, mas não foi possível precisar sua etimologia. Alguns acham que é possível que ela seja de origem indígena. No entanto, considera-se mais provável que ela tenha chegado ao Brasil vinda da África e que ela seja originária de uma das línguas bantas.

    O professor e escritor Deonísio da Silva, em “De onde vêm as palavras: origens e curiosidades da língua portuguesa” , indica que a palavra viria do quimbundo kifunate, que quer dizer “entorse, torcedura”. Originalmente o ato de pegar a cabeça de alguém e torcê-la, cafuné teria se atenuado até chegar ao gesto de coçar o couro cabeludo de alguém com delicadeza.

    O cafuné é íntimo porque reafirma laços familiares, de amizade e de amor. E ele é leve porque faz adormecer, acolhe, cuida. Onde tem cafuné, tem afeto.
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  • Palavras do Brasil - T2Ep#4 (Caçula)
    Dec 19 2022
    “Éramos quatro as filhas de minha mãe.
    Entre elas ocupei sempre o pior lugar.
    Duas me precederam – eram lindas, mimadas.
    Devia ser a última, no entanto,
    veio outra que ficou sendo a caçula.”

    Assim começa o poema “Minha Infância” da poetisa goiana Cora Coralina. Nele, o eu lírico explica que tinha duas irmãs mais velhas, mas que, quando chegou a última, a recém-chegada ocupou o espaço da então caçula. Derradeiro, o caçula é aquele irmão que nunca foi filho único e, por isso, já nasceu precisando desenvolver seu senso de comunidade, dividindo atenção, espaço e objetos.

    Do quimbundo kassule, a palavra caçula significa “o último da família”, ou seja, o filho mais novo. Independentemente do gênero ao qual se refere, o mais comum é sempre usar a forma caçula. É claro que no Brasil é possível dizer que alguém é o filho mais novo, mas a palavra caçula é especial porque se opõe ao primogênito com uma ternura única. O seu diminutivo, caçulinha, reforça ainda mais o afeto com o pequeno da família, mesmo quando ele já é grande.

    Palavras são indícios que nos permitem conhecer melhor a nossa história, e várias das palavras usadas no Brasil são elementos fundamentais de afirmação de uma cultura tão importante para o país como é a cultura africana. Caçula é assim: sua origem nos relembra nossas origens e o seu uso reforça a importância da cultura negra para o que somos e falamos. Não a usar seria um desperdício. Usar “mais novo” não só não tem a mesma carga afetiva, como também não tem a mesma graça. Por experiência própria, posso dizer que ser a filha mais nova é confortável, pois temos pais mais experientes e irmãos para facilitar os nossos caminhos, mas eu gosto mais da ideia de ser a caçula simplesmente porque é mais fofo de se dizer.

    E você? É filho único ou tem irmãos? Você é o primogênito, o irmão do meio ou o caçula da família?
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  • Palavras do Brasil - T2Ep#3 (Moleque)
    Dec 12 2022
    A língua que falamos no Brasil é diferente do português falado em Portugal. Uma das particularidades históricas do Brasil, que contribuiu para modificar e enriquecer sua cultura, é a fusão de povos tão distintos que se materializou em seu solo. Entre os séculos XVI e XIX houve um intenso tráfico negreiro, a fim de transportar para o país mão de obra escrava. Devido às condições sociais criadas diante da relação de exploração entre brancos e negros, tudo que era próprio de culturas africanas era visto com preconceito.
    A língua não está imune ao fenômeno do racismo. Por isso, durante muitos anos, a palavra moleque foi vista como uma ofensa, carregando em si várias acepções negativas e não relacionadas à sua acepção original.

    Do quimbundo mu’leke, moleque significa “menino, rapaz jovem”. Por ter sido um modo comum de os negros chamarem seus próprios filhos, a palavra começou a apresentar um significado pejorativo, pois indicaria crianças de má índole, marginais caçadoras de encrenca.

    O significado vinculado à ideia de imaturidade, comum aos jovens rapazes, e, portanto, com um caráter mais negativo, é bastante comum. O cantor sertanejo Pacheco e a falecida cantora Marília Mendonça cantaram a canção “Moleque”, cuja letra diz:

    “Foi moleque
    Tem trinta mas parece uma criança de sete
    Foi moleque
    Perdeu quem mais te amava
    E vai morrer de saudade
    Me esquece
    Agora pode procurar um bar
    Pro cê chorar a minha falta
    Quem sabe se eu largar você cresce
    Seu moleque”

    Mas mais recentemente, tem ocorrido uma reapropriação do sentido de caráter carinhoso e afetivo que a palavra tem na sua origem. Na expressão “Ah, moleque!”, usada para incentivar o feito de alguém, o “moleque” traz a ideia de que ali existe uma pessoa querida, amiga, que fez algo que merece ser enaltecido.

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    Link para a música “Moleque” interpretada por Pacheco e Marília Mendonça: https://www.youtube.com/watch?v=Z0etbAuiRF4&t=139s
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