Falar bem português e escrever em bom português é absolutamente crítico para comunicar na nossa língua. E sim, calhou-nos uma língua complexa na rifa, difícil, cheia de palavras e regras. Algumas até de difícil compreensão ou mesmo aparentemente contraditórias. Deixem-me dar-vos o exemplo das vírgulas. Onde se põem as vírgulas. Das várias fontes que consultei há, em princípio, 4 regras principais. Mas depois são afinal 11 que até podem ser 15. Se alguém tem outro número queira mandar uma mensagem ou deixar um comentário. Mas o exemplo das vírgulas é tão fascinante que até há uma regra opcional. Leio no ciberdúvidas que a frase 'Depois, vamos sair para jantar.' pode ter essa vírgula, ou, simplesmente, se quiser dar mais ritmo à frase, pode escrever sem vírgula 'Depois vamos sair para jantar.' Esta é conversa sobre línguas, sobre pontuações e até sobre palavrões. Que são umas palavras muito especiais. Cada língua leva dentro de si a cultura de um povo. Mas não só. Sim o poeta Fernando Pessoa disse: “Minha Pátria é minha língua.” Mas a frase continua assim: “Pouco se me dá que Portugal seja invadido, desde que não mexam comigo.” Dificilmente encontramos uma frase que nos defina melhor, ao longo da história. Volto às línguas. Elas não são actos de cultura e comunicação. Foram nascidas e talhadas como arma política. Os franceses não falavam francês. Os italianos também não falavam a língua com que os ouvimos hoje descrever as mais belas coisas do mundo. E as palavras tem significados literais e simbólicos. São as chamadas expressões idiomáticas. O “prego” italiano não é para pregar tábuas nem pregar aos peixes. Será o nosso “de nada” E o “Raconter de salades” não é contar saladas, mas sim “contar uma história.” E a história tem muito peso nesta coisa das línguas. Porque a língua foi um instrumento político de unificação de um estado. E, portanto, imposto ao povo. Muitas vezes usando o fio da espada. Com esse conceito da língua enquanto norma, levamos todos com a mil regras a cumprir. Mas as línguas continuam vivas, recebendo influências das outras ou dos nossos brilhantes pontapés na gramática. Se o pontapé for numa pedra, com força, e de pé descalço, então também recorremos à língua. Usando os palavrões. Palavras escondidas no subsolo do nosso cérebro. São tabu, mas aliviam as dores. As palavras contam. As que dizemos. As que alguém entendeu, ou desentendeu. Há palavras de que gosto. Pode ser pelo significado ou pode ser, simplesmente, pelo som que se produz ao dizê-la. A minha palavra preferida é “óbvio” Gosto do som e do significado. É simples, mas obriga a uma definição de sons. Uma dança entre o B e o V. E é obviamente uma palavra aberta logo na primeira letra. Olhem, obviamente volto para a semana. E vocemessês também. É óbvio. E agora dai-me licença para fechar este parlatório. Ou deveria dizer palratório? Quem é Marco Neves? Marco Neves nasceu em Peniche e vive em Lisboa. Tem sete ofícios, todos virados para as línguas: tradutor, revisor, professor, leitor, conversador e autor. Não são sete? Falta este: é também pai, com o ofício de contar histórias. É professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e diretor do escritório de Lisboa da Eurologos. Escreve regularmente no blogue Certas Palavras. Já publicou os livros Doze Segredos da Língua Portuguesa, A Incrível História Secreta da Língua Portuguesa e o romance A Baleia que Engoliu Um Espanhol. Publicou também um ensaio literário, José Cardoso Pires e o Leitor Desassossegado. Regressa às dúvidas e subtilezas da nossa língua com a Gramática para Todos: O Português na Ponta da Língua. O que aprendi neste episódio*: O Poder da Língua: Reflexões sobre Normas, Resistência Cultural e Transformações Linguísticas A língua, mais do que um simples meio de comunicação,
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