Episódios

  • No Zambujal, com Tibunga: de regresso à cidade invisível
    Nov 15 2024

    Veja aqui a reportagem fotográfica

    No dia do funeral de Odair Moniz, uma jornalista de uma televisão fez um direto, do bairro do Zambujal, dizendo que a paz quotidiana tinha regressado. No entanto, para que os telespetadores reconhecessem de onde falava, escolheu, como cenário, uma paragem de autocarro destruída. Se as palavras eram sobre um bairro que levava um dos seus a enterrar, a imagem era sobre os tumultos. Foi assim durante 15 dias: nós, os da cidade da lei, a olhar assustados, irados ou compreensivos, para eles, os da cidade invisível, para roubar uma expressão de um programa de rádio de António Brito Guterres. A polémica que veio depois, com um autarca socialista a defender regras inconstitucionais para os bairros sociais, resume ainda melhor o sentimento: a maioria da população acredita que a lei não serve para a vida destas pessoas. Que elas não as cumprem, que o Estado não tem de as cumprir. Que têm de ser mantidos na ordem, nada mais.

    Alguns discursos mais cuidadosos ou até bem-intencionados preferiram distinguir, no Bairro do Zambujal e em todos onde houve tumultos resultantes de mais uma morte às mãos da polícia, uma minoria criminosa de uma maioria ordeira e trabalhadora. A realidade é capaz de ser mais complicada quando se cresce com falta de quase tudo. Não que a escola e a casa não existam. Falta o que permite romper com o ciclo de exclusão que este território determina.

    A exclusão ficou evidente no próprio debate, feito sobre o bairro, mas exclusivamente fora do bairro. Apesar de haver associação de moradores e outras organizações de autorrepresentação, as pessoas que vivem nestes bairros são excluídas do debate público. Elas são o problema, não agentes das suas vidas.

    Nas palavras de Ventura, a “bandidagem”, nas dos seus opositores, as “vítimas”. Mas nunca sujeitos da sua própria vontade. Não serve isto para desmerecer quem fala, porque deve falar, da exclusão dos outros. Apenas para sublinhar como a invisibilidade faz parte das regras do jogo. Os moradores dos bairros sociais são vistos ou como um problema de segurança, ou como um problema social, nunca como um problema democrático, na medida em que têm sido excluídos do direito à cidade e à palavra.

    Com os meios que tenho, tentarei fazer o que acho faltar: dar alguma palavra ao Bairro do Zambujal. O modelo será semelhante ao que usei com o António Brito Guterres, na antiga Curraleira. O António estará, aliás, connosco nesta viagem a mais um bocado da cidade invisível. Mas o guia principal não será, desta vez, ele. Será Cláudio Gonçalves, que também usa o nome de Tibunga. Nasceu no Bairro da Cova da Moura, cresceu fora daqui e faz parte da Associação de Moradores do Zambujal. Tem 29 anos, é modelo internacional e as oportunidades que agarrou não resultaram das saídas que o bairro tinha para lhe oferecer. Nas duas próximas horas, estaremos no bairro. Não para filmar tumultos, mas para ouvir os cidadãos que aqui vivem. Bem-vindos ao Zambujal, de que só voltarão a ouvir falar nas televisões quando acontecer outra tragédia.

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    1 hora e 30 minutos
  • Alda Azevedo: estamos a construir ou a regular de menos?
    Oct 31 2024

    A crise na habitação é um dos temas mais transversais a todas as economias industrializadas, com o preço das casas a crescer a um ritmo duas ou três vezes superior ao dos salários desde a viragem do século. Anos a fio de juros baixos, liquidez financeira sem precedentes e aumento exponencial do turismo, tornaram a habitação num dos mais atraentes ativos financeiros.

    Em Portugal, em apenas um ano assistimos uma alteração legislativa de 180 graus numa área chave como esta. De um pacote legislativo como o Mais Habitação, que tentava reforçar o mercado de arrendamento com incentivos fiscais e a penalização do Alojamento Local, passámos para o estímulo da procura, com apoios ao crédito, desregulação do Alojamento Local e isenção fiscal para os jovens até 35 anos.

    Doutorada em Demografia pela Universidade Autónoma de Barcelona, Alda Botelho Azevedo é investigadora auxiliar no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e professora auxiliar convidada no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. É coordenadora do doutoramento em Ciências da População pelo ICS e membro da Comissão Científica. A sua investigação centra-se sobretudo no estudo da demografia da habitação e do envelhecimento demográfico.

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    1 hora e 26 minutos
  • Paulo Querido: há mais colunistas de esquerda ou de direita?
    Oct 11 2024

    Tentando escapar às perceções subjetivas de cada um, Paulo Querido resolveu utilizar um modelo de inteligência artificial para verificar se há, de facto, um viés político na imprensa. Contrariamente ao que costuma ser feito, não só o objeto de estudo não foram as notícias, mas os artigos de opinião, como o que se procurou definir não foi o alinhamento partidário de cada um, mas o seu enquadramento ideológico. Paulo Querido foi jornalista, é programador, escritor e pioneiro na área do jornalismo digital em Portugal. Com uma carreira de várias décadas, tem-se destacado pela inovação e pelo estudo da interseção entre tecnologia e comunicação. É autor de vários livros e artigos que exploram o impacto da tecnologia na sociedade e na informação. E o autor do projeto “VamoLáVer” – título cheio de ironia –, onde este trabalho foi publicado.

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    1 hora e 19 minutos
  • Victor Barros: que lugar tem Amílcar Cabral nas trincheiras da memória?
    Sep 26 2024

    Apesar do lugar que tem na História, se falarmos de Cabral, os portugueses recordam-se de Pedro, raramente de Amílcar. Resgatar a memória de Cabral é resgatar um discurso anticolonialista que os ventos de um saudosismo anacrónico tentam pôr na defensiva. Fez, em 2023, cinquenta anos que Amílcar Cabral foi assassinado, na Guiné-Conacri. Este mês de outubro, celebra-se o centenário do nascimento. Um bom pretexto para remexer na memória, eterno campo de batalha político. Victor Barros é cabo-verdiano, historiador doutorado pela Universidade de Coimbra, com uma tese sobre a construção da memória do império português nas colónias em África. É investigador do Instituto de Histórica Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa e autor de vários artigos sobre Amílcar Cabral.

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    1 hora e 41 minutos
  • Bernardo Pires de Lima: conseguirá Kamala travar o regresso de Trump?
    Sep 4 2024

    Faltam dois meses para as eleições presidenciais americanas mais imprevisíveis das últimas décadas. É a terceira vez, num século, que o presidente em exercício não se recandidata a um segundo mandato. Trump foi condenado por 37 crimes, acusado por abuso sexual e está largamente envolvido no ataque ao Capitólio, cujos autores diz perdoar se for Presidente. Um segundo mandato seria marcado pelo revanchismo. E teria tudo para reconfigurar ainda mais o partido republicano, as relações de poder a nível estadual e da própria democracia americana. A vice de Biden, Kamala Harris, avançou pelo terreno minado que lhe foi deixado. Em poucas semanas, com um vigor e energia que poucos esperavam, deu a volta ao guião derrotado e derrotista dos democratas. A outra face desta moeda é que a energia democrata está alicerçada na ausência de uma plataforma política. Uma decisão que parece propositada, talvez temendo o desfecho que teve a campanha programática de Hillary Clinton. Pode uma candidatura centrista e moderada perder para um condenado, pro-russo e que antecipa um “banho de sangue” se não lhe oferecerem a vitória? Pode. Para tentarmos perceber este grande mistério americano recebemos Bernardo Pires de Lima, investigador associado do Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa, analista de política internacional da RTP e da Antena 1, e presidente do Conselho de Curadores da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento.

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    1 hora e 38 minutos
  • Rui Tavares: haverá Livre para lá do seu coordenador?
    Jul 9 2024

    Em 2019, Rui Tavares chega ao parlamento como deputado único e, desde então, o Livre tem subido, conseguido eleger quatro deputados nas últimas eleições legislativas e tendo ficado à porta do Parlamento Europeu, numas eleições que também não foram isentas de polémica, por causa do seu sistema de primárias abertas para a escolha de candidatos. Nas autárquicas, manteve um acordo em Lisboa com o PS de Fernando Medina. No país, foi aprovando Orçamentos de António Costa, mesmo quando o seu voto não era necessário. O Livre nasceu há dez anos, sempre muito marcado pela figura de Rui Tavares, que começou a sua vida político-partidária como eurodeputado independente eleito pelo Bloco de Esquerda. Num momento em que a esquerda está em recuo, em Portugal, o Livre vai crescendo. Europeísta e ecologista, o Livre conquista alguns votos à direita, mas fragmenta um espaço cada vez mais diminuto. Entre o deve e o haver, se verá o que se ganha e perde. Independentemente disso, o seu crescimento eleitoral sustentado é um feito notável em tempo de crise no espaço da esquerda.

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    1 hora e 29 minutos
  • Marta Temido: alguma coisa afasta o PS da AD na política europeia?
    May 27 2024

    Dirigindo a concelhia socialista de Lisboa e estando a preparar-se para concorrer contra Carlos Moedas, não se conheciam a Marta Temido muitas posições sobre a Europa. Também terá sido por causa disso que António Costa lhe entregou um cartão do PS num palco de um congresso em que se enfileiravam os putativos sucessores na liderança. Temido chegou ao governo de António Costa como independente. Sem qualquer experiência política, caiu-lhe uma pandemia em cima e, independentemente da avaliação que cada um faça da gestão que fez da emergência, acumulou grande popularidade nesse período. Os candidatos portugueses têm convicções próprias ou, chegados a Bruxelas, integram-se consensos que não levaram a votos, nas eleições, com o argumento de ali se fazem compromissos? A ex-ministra da Saúde, Marta Temido, é a última candidata ao Parlamento Europeu a integrar esta série de conversas no Perguntar Não Ofende.

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    1 hora
  • Sebastião Bugalho: que papel terá à AD no descentramento político da Europa?
    May 24 2024

    A escolha de Sebastião Bugalho para cabeça de lista da AD ao Parlamento Europeu surpreendeu e levou a um debate interessante sobre o papel crescente das televisões na política nacional. Ainda mais por Bugalho ter pouco currículo político – foi uma vez candidato do CDS em lugar não elegível – e não se lhe conhecer grande reflexão sobre temas europeus. Surgiu a acusação da valorização do mediatismo e da notoriedade em relação a outras qualidades. Outros falam de refrescamento da política, dando relevo a uma pessoa mais jovem. Mas a escolha de Sebastião Bugalho não pode reduzir a candidatura da AD a este tema. O cabeça de lista disse que, por ter exposto as suas posições ao longo destes anos, até pode ser mais facilmente escrutinado. Na verdade, os comentadores opinam mais sobre política do que sobre políticas, e o Sebastião é seguramente um desses casos. O escrutínio é menos evidente do que parece.

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    1 hora e 3 minutos