Calango Sagrado

De: Calango Sagrado
  • Sumário

  • Um podcast para falar sobre estudos da religião, história, mitologia antiga, livros, séries, filmes e temas ligados à linguagem religiosa e seus efeitos na cultura, política e sociedades.
    Calango Sagrado
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Episódios
  • Terrorismo Evangélico: a literatura de guerra espiritual e formação do pensamento religioso brasileiro
    Sep 9 2024

    Uma conversa honesta, com toques biográficos e análise historiográfica da formação do pensamento evangélico brasileiro herança do trabalho missionário evangélico estrangeiro, sobretudo dos Estados Unidos e suas teorias que por quase dois séculos semeiam o imaginário religioso em solo brasileiro e ao redor do mundo.

    Falamos como a tradução da Bíblia, movimentos políticos e missionários se encontram num fio condutor que envolve colonialismo, capitalismo e extrema-direita e a linguagem nas redes.

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    3 horas e 4 minutos
  • Hillazon-Tekhelet: Azul da cor do mar
    Jun 7 2023


     

    Entre essas culturas do Mediterrâneo e do Levante houve um momento em que era difícil a separação das cores púrpura e o tekhelet. Sendo que a primeira cor ficou com o uso restrito a quem pudesse pagar e durante os vários impérios da antiguidade, apenas a alta nobreza e posteriormente o uso fica exclusivo à realeza e ao palácio.

     

    Na cultura dos hebreus essa cor sofreria algum tipo de especificidade para diferenciar-se dos demais tons de lilás dos cananeus da famosa cidade de Tiro que aprenderam dos outros povos do Mediterrâneo a extração de um pigmento de um caracol, o conhecido Murex Trunculus que estava presente por toda a costa mediterrânea. Deste caramujo era extraída a cor púrpura que logo ficou restrita e relacionada à realeza e à nobreza.

     

    O processo de separação cultural, linguística, dietética e de elementos políticos dos povos cananeus e dos antigos hebreus envolveu um período de rejeição da cultura original do Levante, adaptação e apropriação com fatores diferenciados da cultura de origem. Nesse processo de apropriação houve a criação de histórias e mitologias que justificassem essa separação e distinção dos hebreus de seus vizinhos. Esse processo também envolveu historiografia e historiosofia que pudesse explicar tal distinção. Essa diferença não podia meramente acontecer por razões humanas, era preciso haver algo divino, fora do comum para que as gerações futuras não se aproximassem dos cananeus.

     

    No períodopós-exílio quando o texto do Pentateuco foi compilado e organizado, uma das ordenanças da classe sacerdotal, os prováveis redatores da Torá. Os textos da Torá, marcam especificamente várias dessas diferenças dos hebreus com os outros povos cananeus, e relatam o possível porquê, como ordem divina para estas distinções. Voltando ao tema de nobreza e elite que nesse tempo eram compostos necessariamente pela classe sacerdotal e uma elite que coordenava e financiava a redação dos texto era que os sacerdotes usassem um tecido com uma que representasse o azul messiânico.

     

    Criaram-se várias histórias sobre a origem desse azul messiânico, como a cor preferida do rei Davi, além de ser também a cor do trono do “Din” (julgamento) e simboliza o Shamayim (céus) pois, seria dessa mesma cor o trono de Javé. Os diversos tons de azul, mudam de acordo com cada escola de pensamento judaico. Em suma, esse azul messiânico e exclusivo dos hebreus, o tekhelet estava associado à realeza e à classe sacerdotal, que no pós-exílio também ocupou a função real/política nesse “novo Israel.” Até que chegassem os romanos, e instituíssem que esse azul, agora conhecido como púrpura seria exclusividade da nobreza romana. Os judeus, agora colonizados, não condiziam com o status de exclusividade para usar a tal cor. Por volta do século 5 E.C. Apenas o imperador podia usar a cor púrpura, no que ficou conhecido como a lei suntuária, o Sumptuariae leges.

     

    Textos extra bíblicos como a mishnah, o talmude e reflexões de Maimônides trataram de explicar alguns dos mandamentos da Torá que apresentam esse azul messiânico. Bem como a sua origem, o mítico  animal Hillazon. Como um segredo que perde pela história o Hillazon desapareceu e com ele a esperança do cumprimento do estabelecimento do reino sacerdotal com o azul messiânico e o trono de Javé.

     

    No final do século 19 um rabino polonês seguiu em sua busca pelo Hillazon e pelo azul messiânico. Esse rabino chegou a dizer que sem que houvesse as roupas sacerdotais com o azul messiânico, tekhelet, o Messias não podia chegar. E ele como Elias, em sua busca estava preparando o caminho para a construção do terceiro templo e o estabelecimento do reino sacerdotal comandado pelo Messias e seu trono azul, tekhelet.

     

    Mas o que era o Hillazon? Como todo o segredo antigo a ser decifrado, a busca pelo animal que supostamente traria o Messias, teve suas controvérsias e milhares de páginas escritas, em livros, dissertações e incansáveis debates entre vários segmentos judaicos.


     

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    20 minutos
  • Nephilim - Gigantes pela própria natureza
    May 20 2023

     

    הָאֱלֹהִים אֶל-בְּנוֹת הָאָדָם, וְיָלְדוּ לָהֶם:  הֵמָּה הַגִּבֹּרִים אֲשֶׁר מֵעוֹלָם, אַנְשֵׁי הַשֵּׁם.  {פ}

    (Bíblia Hebraica – Texto Massorético)

     

    “Os Nephilim estavam sobre a terra e aconteceu que os filhos de Deus [Elohim] deitaram-se com as filhas do homem e geraram filhos: eles são os herois, homens de renome.”

    tradução de Gênesis 6:4 de Robert Alter. (versão em português, tradução livre)

     

    Estamos no episódio 4 de nossa série Monstros Bíblicos. No episódio de hoje falaremos sobre os Nephilim.  No mundo antigo em diversas culturas havia uma história sobre um dilúvio que inundou o mundo conhecido. A criação de histórias e mitos, na maioria das vezes serve como um recurso linguístico para explicar uma narrativa, e lidar com o imaginário de povos e culturas distintas.

    A construção de histórias precisa de sustentação narrativa e também de justificavas para entrar no mundo da oralidade, onde verossimilidade poderia ser apenas um simples detalhe. No mundo do folclore/mitologia dos antigos hebreus também era assim. A história do dilúvio precisa encontrar um mote que fizesse sentido à audiência hebreia, permeada naquele momento pela idealização moral de uma desordem cósmica que apenas Javé, e Javé somente, era capaz de reordenar.

    Não entraremos nos motivos teológicos do dilúvio (campo dogmático), mas apenas no recurso narrativo, folclórico onde uma das justificativas para tal evento cataclísmico seria a união sexual entre um grupo de seres celestes e mulheres. Os B’nei Elohim, traduzido como “anjos” em algumas versões, são seres que podem habitar o mundo dos deuses, não necessariamente anjos, no sentido em que entendemos hoje em dia.

    A história dos Nephilim é contada e recontada com mais propriedade na literatura apócrifa do período que conhecemos como judaísmo do segundo templo. Essa religião do segundo templo absorveu com mais ênfase aspectos do pensamento persa, egípcio e o próprio folclore hebreu/cananeu antigo é retomado e revisto. A relação causa e efeito agora torna-se uma constante na explicação de fenômenos históricos, onde o metafisico entra no mundo físico. Numa área conhecida, como historiosofia, aquilo que está por trás das histórias contadas.

    Os livros de Enoque (1Enoque)  e o Livro do Jubileu são literaturas que mencionam a possível origem dos Nephilim. Na literatura enoquita está escrito que 200 seres celestes, chamados de sentinelas coabitaram com mulheres e geraram os Nephilim. Esses seres, sentinelas, também ensinaram às mulheres a mística, encantamentos e como usar plantas e raízes para a cura, além da arte das pinturas, adereços e cosmética. O livro canônico de Daniel também apresenta a palavra sentinela para referir-se a uma classificação de ser angelical. O livro de Enoque relata ainda que os sentinelas foram punidos, aprisionados em correntes num abismo e no Dia do Messias, serão julgados e condenados.

    No Livro dos jubileus é relatada a suposta origem, caráter e julgamento dos nephilim. No dia do juízo final.  O desenvolvimento da história narrada no livro diz que os espíritos deles transformaram-se em demônios. O Livro do jubileu também confirma a tese que a presença da maldade dos nephilim causou um desiquilíbrio cósmico na criação e Javé não teve uma alternativa a não ser o dilúvio que destruiria o avanço dessas criaturas. A presença dos Nephilim no mundo traria a maldade e segredos que os humanos não poderiam saber.


    Na narrativa bíblica parece existir descendentes dos nefilim ainda em terras cananeias a serem conquistadas, na contação de história do êxodo e os habitantes de Canaã e até no mítico embate do jovem Davi e o famoso gigante Golias. Seriam os nefilim, gigantes ou apenas homens sanguinários? De todos os modos, estamos vendo nessa série que alguns dos monstros relatados nas histórias do imaginário hebreu são mais humanos que bestiais.

     

     

     

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